As mulheres vêm ganhando cada vez mais espaço na construção civil. É o que mostram os dados divulgados ao longo dos anos pela Rais (Relação Anual de Informações Sociais), que registraram, em 2010, 7,8% de trabalhadoras formais no setor, enquanto o último levantamento, de 2021, já contempla 10,85% de profissionais femininas. Isso representa que passamos de 207 mil mulheres (em um total de 2,6 milhões de funcionários) para 251 mil (total de 2,3 milhões).
“Existem muitas mulheres capacitadas e aptas a serem inseridas em grandes corporações, construtoras, empreiteiras”, diz Geisa Garibaldi, CEO da Concreto Rosa. A organização é formada por mulheres e conta com uma equipe composta por arquitetas, pintoras, pedreiras, eletricistas e outras especialistas que discutem soluções, comportamentos e tendências nesse mercado que ainda é majoritariamente masculino.
Geisa, que foi convidada para falar sobre o assunto na última edição do ENIC (Encontro Nacional da Indústria da Construção), em abril, em São Paulo, conta que já realizou palestra em um canteiro de obras onde havia apenas uma mulher, ao lado de cerca de 360 homens. E explica que a Concreto Rosa possui uma metodologia especial que inclui mentorias, programa de inserção, capacitação, e, principalmente, ações para tratar da permanência das profissionais no canteiro. “Porque eles [os empregadores, de forma geral] até têm vaga, mas não sabem absolutamente nada sobre nós, sobre nossos desafios enquanto mulheres e sobre a desigualdade desleal que partimos dos ‘pontos dessa corrida’.”
Adaptações e qualificação de mulheres
Ana Cláudia Gomes, presidente da Comissão de Responsabilidade Social (CRS) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), acredita que o número de mulheres na construção civil deve crescer de forma consistente nos próximos anos, já que o número de profissionais formadas vem aumentando. Os últimos dados divulgados pelo Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia) mostram que, das pouco mais de 1 milhão de pessoas registradas no sistema do Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), em todo o Brasil, cerca de 216 mil são mulheres e 877 mil são homens.
Mas Ana Cláudia ressalta o impacto financeiro como um dos principais entraves na maior participação feminina no setor. “Uma questão que é levantada por muitas empresas é sobre o dimensionamento das áreas de convivência nos canteiros. Elas começam a considerar o custo em ter que dobrar espaços como banheiros e vestiários, por exemplo. O que pode se tornar inviável para empresas menores”, explicou a presidente da CRS.
Além de lançar uma cartilha sobre diversidade e inclusão, a Comissão de Responsabilidade Social também prevê outras ações para colaborar com a igualdade na indústria, como a realização de trabalhos de qualificação de mulheres para a participação em cargos de liderança.
Outro objetivo é realizar pesquisas sobre a força de trabalho no setor, com foco no segmento feminino. “Queremos fornecer aos nossos associados e empresas informações relevantes que possam ser utilizadas nos seus negócios”, afirma. “A CBIC tem o compromisso de auxiliar o ingresso e o crescimento dessa mulher na nossa indústria. Nós queremos, realmente, ser uma indústria cada vez mais desejada e onde essa mulher seja acolhida, recebida e que tenha a oportunidade de crescimento.”
Outros dados de mulheres na construção
O relatório de 2021 do Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação, revela que, da lista dos 20 maiores cursos em número de matrículas de graduação, engenharia civil é o segundo com maior participação masculina (70,6%), enquanto 29,4% são mulheres. Só fica atrás de sistemas de informação (83% de homens e 17% de mulheres).
E, sobre mercado de trabalho, outro dado divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que engloba um período amplo, destaca que o setor cresceu cerca de 120% de 2007 a 2018 – nestes 11 anos, o número passou de 109 mil para 230 mil trabalhadoras registradas.
O relatório da Rais de 2021, citado no início do texto, mostra que, das 250 mil mulheres com trabalho formal na indústria da construção, 103 mil realizavam serviços administrativos, enquanto cerca de 38 mil tinham cargos referentes a conservação e manutenção de edifícios e logradouros. Nesse período, aproximadamente 17 mil vinham na produção de bens e serviços industriais – desse número, a área de ajudantes de obras registrou a presença de 7.180 mulheres, com 1.148 trabalhadoras em estruturas de alvenaria, 632 responsáveis por instalações elétricas e 65 na operação de máquinas de concreto usinado, por exemplo.
Matéria publicada no Massa Cinzenta