O material de construção mais popular do mundo, o concreto, caminha para uma versão revolucionária nos próximos anos, o chamado Concreto de Ultra Alta Durabilidade (UHDC). Ele vem sendo desenvolvido com o foco de integrar o melhor dos mundos no que se refere à tecnologia de concreto unindo conceitos de ponta de autocicatrização e de alto desempenho, a fim de elevar o material para uma faixa de resistência 10 vezes superior ao concreto especial usado atualmente em Estações de Tratamento de Água e Esgoto (ETE).
Calcula-se que o UHDC chegará a um patamar entre 300 e 350 megapascal (MPa). O doutorando e mestre em Ciências pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e diretor técnico do Penetron Internacional, o engenheiro civil Emilio Minoru Takagi, que participa do desenvolvimento desse projeto, conta que esse salto de durabilidade e resistência é garantido por revestimentos antiácidos à base de geopolímeros. “Mimetizamos o que ocorre na natureza. A inspiração vem do esmalte do dente que protege a dentina, um tecido vivo e é autocicatrizante”, explica o engenheiro. “Mesmo com essa resistência fantástica de 350 megapascal (MPa), de 98% em relação ao ácido sulfúrico, o material exige manutenção adequada, do contrário ocorre a deterioração assim como ocorre com o esmalte dos dentes que sem o devido cuidado dão lugar às cáries”, compara.
O projeto teve início em 2017, está orçado entre R$ 200 mil e R$ 300 mil e conta com verbas de fomento. É uma realização conjunta entre Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), que disponibiliza a estrutura para os ensaios e pesquisa, a iniciativa privada por meio de toda a expertise da Penetron (que participa do projeto ReSHEALience) e empresas de saneamento como a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa). “Esse Concreto de Ultra Alta Durabilidade soma aditivos cristalizantes com nanocelulose e material antimicrobiano para potencializar a vida útil em pelo menos 50% do concreto utilizado hoje em Estações de Tratamento de Esgoto e multiplica por 10 a resistência atual chegando aos 350 MPa”, destaca Takagi.
Pelos cálculos, o metro cúbico deste produto deverá custar o dobro do concreto normal, mas a durabilidade e resistência tornam essa inovação muito mais vantajosa economicamente. Além disso, toda essa resistência é garantida com uma espessura bem mais fina. “A parede com o UHDC tem uma espessura equivalente a um terço do que é necessário atualmente, isso permitirá em um segundo momento fazer uso da impressora 3D para realizar as obras do futuro, garantindo escala”, comenta.
Tal vantagem se mostra completamente pertinente ao desafio de até 2033 universalizar o tratamento de água e a coleta de esgoto no Brasil. Algo que ainda não é realidade para milhões de brasileiros, 35 milhões não têm acesso a água tratada e são 100 milhões sem coleta de esgoto. “Esse projeto traz um alcance social que toda pesquisa deveria ter, unindo universidade, indústria e órgãos governamentais para solucionar problemas da sociedade”, defende o doutorando do ITA.
Essa tecnologia também traz uma segunda vertente que é o ecocimento para estruturas pequenas como decantadores e biodigestores. A Usina de Biogás da Raízen em Guariba (SP) conta com dois biodigestores construídos com esse material. A Copasa também tem utilizado o produto em obras do município de São José da Lapa (MG).
Matéria publicada no Massa Cinzenta