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ConstruCarta Conjuntura: A Inflação finalmente cedeu?

Expectativas de curto e de longo prazo deveriam ter fundamentos diferentes e, via de regra, baixos níveis de contágio recíproco. Pelo menos é o que dizem os manuais de Economia.

No mundo real, porém, percepções e julgamentos menos racionais e sujeitos a grande volatilidade predominam e devem ser analisados com cuidado. Assim, a despeito do prolongamento da guerra na Ucrânia, do baixo crescimento chinês e dos cortes de produção de petróleo pelos países da OPEP – todos elementos que deveriam fundamentar um cenário mais pessimista a médio e longo prazos –, o mercado financeiro brasileiro reagiu nos últimos dias com grande otimismo a alguns sinais que surgiram no horizonte econômico.

Graças a isso, os dois termômetros mais relevantes de curtíssimo prazo prontamente captaram esse bom-ânimo: o dólar caiu abaixo da marca psicológica de R$ 5 e a bolsa teve forte alta.

Mas, quais os fundamentos dessa onda otimista? É certo que o chamado “arcabouço fiscal” está longe de ser uma solução perfeita para o reequilíbrio das contas públicas. Do mesmo modo, a troca de farpas do Executivo Federal com o Banco Central não cessou e as expectativas de crescimento econômico para 2023 estão sendo revisadas para baixo, inclusive por instituições de porte como o FMI que projeta alta de PIB de menos de 1% neste ano. Mas esses são fundamentos de mais longo prazo.

Enquanto isso, no curto prazo, dois dos principais índices de inflação trouxeram resultados favoráveis no início de abril. O IGP-DI acusou deflação de 0,34% em março puxado pelos preços no atacado: o IPA – Índice de Preços ao Produtor Amplo recuou 0,71% no mesmo mês.

Com isso, esses indicadores acumulam variação negativa em doze meses: -1,16% no caso do IGP e -3,51% no caso do IPA. Em boa medida, esses movimentos refletem o comportamento dos preços das commodities em reais, que vêm recuando de forma mais ou menos contínua desde o ano passado.

Esses preços têm peso importante no IPA que, por sua vez, responde por 60% do IGP. Caso se confirme a tendência de queda do dólar, a deflação de ambos os indicadores deve ganhar ainda mais força em abril. Já o IPCA, índice oficial do regime de metas para a inflação, registrou alta de 0,71% em março, 0,13 ponto percentual abaixo do que foi registrado no mês anterior (0,84%). Nos últimos doze meses, a variação acumulada do índice chegou a 4,65%, abaixo dos 5,60% observados nos doze meses imediatamente anteriores.

Mesmo estando bem acima do centro da meta do Banco Central (3,25%), a variação em doze meses ficou abaixo do teto do intervalo de tolerância (4,75%) pela primeira vez desde fevereiro de 2021. E até junho deverá ficar no nível mais próximo da meta de inflação para 2023, de 3,5%. No entanto, a partir do segundo semestre, a inflação deve voltar a acelerar no cálculo de 12 meses, devido ao efeito base da redução dos tributos federais em gasolina e energia do ano passado.

De todo modo, a desaceleração recente maior que a esperada pode abrir espaço para o início do ciclo de redução da Selic, com ou sem o “barulho” que tem sido feito na esfera política. www.sindusconsp.com.br A questão que se coloca – e que certamente será tratada na próxima reunião do COPOM – é se essa dinâmica de curto prazo está ou não apontando para o comportamento de longo prazo da inflação.

Matéria publicada no Sinduscon-S

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