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ConstruCarta Conjuntura: Caindo para o alto

Há alguns dias, participando de um evento em São Paulo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou que “o inferno inflacionário já passou”. Também afirmou, referindo-se a alguns países desenvolvidos, que estes “estão indo para o inferno [da inflação alta]”. Chegou a prever que a inflação no Reino Unido logo chegará a dois dígitos.
 
De forma aparentemente contraditória, horas depois dessa declaração, o próprio Ministério da Economia anunciou uma elevação na projeção de inflação para o ano: 8% de variação para o IPCA. Vistos em paralelo, os dois anúncios sugerem que a inflação caiu para cima.
  
Deixando de lado a retórica típica das autoridades do Executivo, de resto observada em qualquer país, é preciso esclarecer o que está se passando com a dinâmica inflacionária. O IPCA, índice oficial do regime de metas, vem acumulando recordes sucessivos nos meses recentes e, em abril, superou a marca de 12% no acumulado em dozes meses. A maioria das projeções de mercado sugere que o índice deve encerrar o ano em torno de 9%, muito perto dos dois dígitos. Então, de certa forma, as expectativas apontam, sim, para um arrefecimento da inflação.
 
Mas, mantendo a analogia dantesca do ministro, talvez o mais correto fosse dizer que estamos saindo do inferno progressivamente, tendo pulado – quem sabe – do sexto para o quinto círculo infernal. Essa visão menos otimista se justifica pelo fato de que, em grande medida, a inflação deverá ceder pelo simples fato de que a renda real das famílias se encontra amplamente comprometida com gastos básicos, como a alimentação e energia, e a consequente queda na demanda é que poderá, em parte, conter a alta dos preços.
 
Por outro lado, não há no horizonte um cenário claro de reversão das pressões de custos que estão na base da recente alta da inflação. Apesar do recuo da taxa de câmbio, que já chega a 13,3% desde o início o ano, os preços internacionais das commodities seguem pressionados. Em paralelo, as medidas recentes de redução de alíquotas do imposto de importação para uma série de produtos como o vergalhão devem ter efeitos lentos nas cadeias produtivas e seus impactos sobre os índices ao consumidor são no mínimo incertos.
 
Em resumo: há pouco o que comemorar no front inflacionário e o ajuste para cima da projeção do próprio Ministério da Economia é mais relevante do que a compreensível retórica otimista do ministro. Sem uma reversão consistentes dos preços internacionais de commodities, com destaque para energia, o cenário permanece desfavorável.

Matéria publicada no Sinduscon-SP

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