Dados divulgados pelo IBGE revelaram que o PIB brasileiro teve alta de 0,8% entre janeiro e março na comparação dessazonalizada com o trimestre anterior. Esse resultado, muito embora tenha ficado dentro das expectativas de mercado, situou-se um pouco acima da mediana das projeções e, portanto, pode ser considerado relativamente favorável.
Como já sugeriam os dados do CAGED (emprego formal), o setor de serviços foi o maior responsável pela alta, tendo apresentado crescimento de 1,4% na mesma base de comparação. A indústria apresentou recuo de 0,1% e a agropecuária, alta de 11,3%.
Dentre as atividades do setor de serviços, os maiores destaques positivos ficaram por conta do comércio (3%), do segmento de informação e comunicação (2,1%) e das outras atividades de serviços (1,6%). Estas últimas, que incluem atividades como cuidados pessoais e entretenimento, haviam sofrido mais pesadamente com a pandemia e, surpreendentemente, ainda parecem estar em processo de descompressão. No campo negativo houve queda apenas nas atividades de administração, saúde e educação públicas (-0,1%).
Na indústria, apesar do recuo no primeiro trimestre na série com ajuste sazonal, a manufatura (indústria de transformação) teve resultado positivo frente ao trimestre anterior (0,7%). Mas registraram queda os segmentos de eletricidade e gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos (-1,6%), a construção civil (-0,5%) e a indústria extrativa (-0,4%).
Pela ótica da demanda agregada, o consumo das famílias cresceu 1,5%. Esse foi o reflexo mais direto do bom momento do mercado de trabalho, somado ao recuo da inflação e à queda nas taxas de juros que tem favorecido a expansão do crédito. Também não se deve negligenciar os efeitos do programa Desenrola Brasil, que renegociou dívidas no valor de R$ 52 bilhões favorecendo mais de 14 milhões de pessoas, 1/3 das quais nas faixas de renda mais baixas.
Outros resultados bastante positivos referem-se ao investimento (formação bruta de capital), cuja alta dessazonalizada frente ao trimestre anterior chegou a 4,1%, o que representou a segunda melhora consecutiva.
Dessa forma, a taxa de investimento voltou a subir, mas ainda se mantém, abaixo de 17%. Por sua vez, os gastos públicos (consumo do governo) registraram estabilidade. Ainda pela ótica da demanda, a contribuição do setor externo foi negativa – as exportações tiveram alta de 0,2% e as importações de 6,5%.
Na comparação com igual trimestre de 2023, o PIB cresceu 2,5%. Nesse comparativo, a agropecuária recuou 3% enquanto a indústria registrou crescimento de 2,8%, sobretudo por conta das atividades extrativas (5,9%), e o setor de serviços também cresceu 3% liderado pelas outras atividades de serviços (4,7%). De volta ao setor industrial, a construção teve alta de 2,1% e a indústria de transformação de 1,5%, sempre frente ao primeiro trimestre de 2023.
Na mesma base de comparação, o grande destaque ficou por conta do consumo das famílias, com alta de 4,4%, enquanto o consumo do governo avançou 2,6%. A formação de capital avançou 2,7%, as exportações, 6,5% e as importações, 10,2%.
Vistos em conjunto, esses resultados devem amenizar as apreensões de diversos analistas de mercado quanto ao crescimento no ano de 2024, vinculadas às crescentes incertezas no campo fiscal. Muito embora seja digna de atenção, a dificuldade do governo em sinalizar com o equilíbrio de longo prazo das contas públicas parece estar tendo menos efeito sobre a economia real. Do outro lado da balança, emprego em alta e juros e inflação em queda certamente devem contribuir para que as projeções para o desempenho do PIB no ano em curso sejam revistas para cima, ainda que o quadro fiscal limite a trajetória de redução da Selic que, por sinal, ainda não foi encerrada.
Matéria publicada no Sinduscon-SP