Como faz anualmente, no início de novembro o IBGE divulgou os dados definitivos das Contas Nacionais de dois anos atrás. Portanto, agora em 2022 foram divulgados os números referentes ao ano de 2020. A revisão incorpora os resultados de várias pesquisas anuais como da indústria, do comércio, de serviços e da construção, além das informações das declarações do Imposto de Renda da Pessoas Jurídica. São pesquisas mais demoradas, que demandam mais de um ano para a sua consolidação e divulgação.
A revisão mostrou uma queda menor que a estimada anteriormente para a economia brasileira: a retração do PIB, antes estimada em 3,9%, passou para 3,3%.
A alteração deveu-se especialmente a um resultado menos negativo para o setor de Serviços, que como se sabe, foi o mais atingido pela pandemia e pela consequente necessidade de fechamento dos estabelecimentos. A queda do setor foi revista de 4,3% para 3,7%. Os demais setores também tiveram seus resultados alterados: o PIB da Indústria passou de -3,4% para -3,0%. Por sua vez, na Agropecuária o resultado definitivo revelou um crescimento maior, sendo revisado de 3,8% para 4,2%.
Dentro da Indústria, vale destacar a alteração do PIB da construção. A retração inicialmente estimada em 6,3% passou para -2,1%. Vale lembrar que a construção foi considerada atividade essencial e conseguiu se adequar rapidamente aos protocolos sanitários. Ainda assim, algumas obras tiveram seu início adiado ou reduziram o ritmo de produção. Mas a revisão mostra que o impacto da pandemia sobre a atividade setorial foi menor do que estimado anteriormente.
Pela ótica da demanda, o consumo das famílias teve queda de 4,4% e as despesas o governo, de 3,7%. A Formação Bruta de Capital registrou redução de 1,7%, sendo que a maior queda se deu no componente máquinas e equipamentos (-4,3%). Produtos de propriedade intelectual também teve retração (-2,3%). Por sua vez, a construção cresceu (0,6%), assim como outros ativos fixos (1,9%).
Em valores, o PIB de 2020 alcançou R$ 7,6 trilhões e o PIB per capita, R$ 35.935,74.
O Valor Adicionado (VA) pela construção foi de R$ 267,9 bilhões, o que correspondeu a 18% do VA da indústria e a 4,1%, do total do país. Na série iniciada em 1995, a melhor posição alcançada pelo setor foi em 1998 (7,90%).
A taxa de investimento ficou em 16,6% do PIB, com ligeira melhora na comparação com 2019 (15,5%), mas ainda distante do pico alcançado em 2013 (20,9%). A participação da construção no investimento alcançou 44,6%. Dentro da construção, os investimentos em edificações residenciais representam 44,7%.
Em 2020, foram registradas 99,2 milhões de pessoas ocupadas em todo país, uma queda de 6,4% em relação a 2019. A construção com 7,1% das ocupações teve queda de 9,1% em relação a 2019. No setor de Serviços, a ocupação caiu 6,80%. Vale o destaque para as Atividades Imobiliárias, que tiveram aumento de 4,8% no número de ocupados.
Em 2020, entre as medidas de mitigação aos impactos da covid, houve o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda. O programa conseguiu garantir as vagas formais, mas as posições que não são protegidas pela legislação, trabalhadores sem carteira e autônomos, sofreram bastante. Enquanto o emprego com carteira teve queda de apenas 1,6%, o número de trabalhadores sem carteira e de autônomos diminuiu 17,5% e 7,6%, respectivamente. No caso da construção, a diferença foi ainda mais significativa, pois houve aumento no número de empregos com vínculos formais (1,9%), enquanto os registros de trabalhadores sem carteira e de autônomos diminuíram 14,6% e 11,5%, nessa ordem. Vale observar que as posições sem vínculos representam 47,3% do total de ocupados no país, mas na construção esse percentual atinge 73,1%.
Enfim, a queda registrada pela economia brasileira ainda foi superior à média mundial (-3,1%), mas a revisão reafirma a importância das medidas de suporte que foram acionadas. Na construção, o desempenho do setor formal foi decisivo para segurar a queda da atividade.
Essa revisão deve promover mudanças também nos números das Contas Trimestrais de 2021 e 2022. Os novos números serão divulgados com os resultados do terceiro trimestre a serem anunciados em 1º de dezembro.
Matéria publicada no Sinduscon-SP