PRODUÇÃO DE MATERIAIS
A produção industrial dos insumos típicos da construção civil encerrou 2021 com crescimento de 8,1% em relação ao ano anterior, a maior variação anual considerando a série histórica da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE iniciada em 2012, fonte das informações. A indicação, porém, é de desaceleração da produção desses bens, visto que, na comparação com o resultado de dezembro de 2020, houve uma queda de 11,6% da produção desses insumos, a quarta consecutiva nessa base de comparação interanual.
Outra indicação é a desaceleração observada ao longo do segundo semestre de 2021 tanto da taxa de variação acumulada no ano quanto da taxa de variação acumulada nos últimos doze meses, a qual passou de 10,8% até novembro para 8,1% até dezembro, definindo o resultado do ano, após atingir o patamar máximo de 16,9% no acumulado até junho de 2021.
Vale uma vez mais reforçar, como já registrado em boletins anteriores, a contribuição do efeito base para a configuração desse quadro. A adoção das medidas de combate à pandemia da covid-19 deprimiu a produção dos insumos típicos no primeiro semestre de 2020, favorecendo a comparação com a produção registrada em igual período de 2021.
Com a forte recuperação da produção no segundo semestre de 2020, o efeito base deixa de ser positivo, levando a uma comparação mais desfavorável com a evolução da produção no mesmo intervalo de tempo de 2021. O efeito líquido foi, no entanto, positivo para a comparação do resultado do ano como um todo, com o já mencionado crescimento historicamente expressivo de 8,1%.
No caso da produção da indústria geral, o crescimento registrado em 2021 foi de 3,9%, primeiro resultado positivo desde 2018, após as quedas registradas em 2019 (-1,1%) e 2020 (-4,5%). Tomando apenas o resultado de dezembro, a produção avançou 2,9% na comparação com novembro, com base nas informações com ajuste sazonal, primeiro resultado mensal positivo após a variação nula de novembro e de cinco meses seguidos de queda (junho a outubro), quando a produção acumulou uma retração de 3,3% nesse período.
Apesar desse crescimento na margem, a indicação de desaceleração comentada acima é também observada no contexto da produção industrial nacional. Na comparação interanual, por exemplo, houve um declínio de 4,9% frente a dezembro de 2020, enquanto as taxas de variação acumulada no ano e em doze meses seguem em desaceleração, com esta última passando de 5,0% até novembro para 3,9% até dezembro. Em outros termos, o crescimento registrado em 2021 se deu, como destacou em nota o gerente da pesquisa do IBGE, André Macedo, sobre um período de muita perda (2020), sem reverter inteiramente o resultado negativo do ano anterior. Adicionalmente, como apontou Macedo, o segundo semestre de 2021 foi ainda marcado pelos reflexos da pandemia da covid-19 no processo produtivo, “como o encarecimento dos custos de produção e falta de matérias-primas”, e sobre a demanda doméstica, com a inflação em patamares mais elevados e o mercado de trabalho que, embora tenha mostrado alguma recuperação, ainda se mostrava relativamente fraco.
A produção das Indústrias Extrativas teve um desempenho modesto em 2021, com crescimento de 1,1% em relação a 2020, ainda que bastante superior ao dos dois anos anteriores (-9,7% em 2019 e -3,4% em 2020). Na margem, a produção desse segmento da indústria geral avançou 1,6% em dezembro frente a novembro, já considerada a sazonalidade do período, desacelerando em relação ao resultado do mês anterior (5,0%), mas contribuindo para reverter parcialmente a queda de 9,9% apurada em outubro. Na comparação com dezembro de 2020, houve uma expansão de 2,0%. Diferentemente da evolução da indústria geral, a taxa de variação acumulada em doze meses da produção das Indústrias Extrativas mostrou modesta e constante aceleração a partir de maio de 2021, após atingir -2,8% no acumulado até abril, fechando o ano com expansão de 1,1%, como já comentado.
Por fim, a produção das Indústrias de Transformação teve crescimento mais expressivo no ano passado, de 4,3%, contrastando igualmente com o resultado de 2019 (0,2%) e de 2020 (-4,6%). Em dezembro, a alta da produção foi de 2,0% frente a novembro, feito o ajuste sazonal, primeiro resultado positivo após seis meses consecutivos de retração na base de comparação mensal. Dado o seu enorme peso na composição da indústria geral, a trajetória de produção das Indústrias de Transformação acabou por condicionar a evolução do segmento. Por conta disso, também foi observada no caso desse conjunto de indústrias uma desaceleração do crescimento ao longo do segundo semestre de 2021, com a taxa de variação acumulada em doze meses saindo de 8,4% até agosto para 4,3% até dezembro, o mesmo sendo observado no caso da taxa de variação acumulada no ano, que atingiu o seu máximo em maio (14,8%).
CUSTOS DA CONSTRUÇÃO
Em janeiro, o custo médio nacional da construção, mensurado pelo Índice Nacional da Construção Civil do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi) do IBGE, teve alta de 0,72% em relação ao mês anterior, superando o resultado de dezembro (0,52%), mas ficando abaixo da taxa apurada em janeiro de 2021 (1,99%).
Apesar do recuo da taxa frente a janeiro de 2021, a variação em janeiro de 2022 ainda se situou em um patamar superior ao observado nos anos anteriores, fato que se deve pelo aumento do custo médio da mão de obra, cuja alta foi influenciada particularmente pelos acordos coletivos em Alagoas, Tocantins e Piauí, como destacou o IBGE em nota. Por outro lado, a taxa de variação acumulada nos últimos doze meses voltou a desacelerar, passando de 18,65% até dezembro, o que correspondeu à variação anual registrada em 2021, para 17,17% até janeiro. Vale lembrar que esse movimento de desaceleração teve início ainda em agosto de 2021, quando a variação acumulada nessa base de comparação chegou a 22,74%.
Com respeito ao custo médio dos materiais, um dos componentes do custo médio nacional, a variação apurada em janeiro foi de 0,63%, menor taxa mensal desde julho de 2020 (0,48%), ficando, portanto, abaixo do observado em dezembro (0,76%) e em janeiro do ano passado (2,96%). Como o próprio IBGE apontou quando da divulgação das informações do Sinapi, em janeiro houve uma menor pressão do lado do custo dos materiais, inclusive com o registro de deflação no caso de certos produtos, como os pertencentes ao segmento do aço. Refletindo em parte essa trajetória recente, a variação acumulada nos últimos doze meses do custo médio dos materiais seguiu em desaceleração (trajetória que teve em início em agosto de 2021, quando essa taxa foi de 37,69%), passando de 28,12% até dezembro (fechamento do ano) para 25,22% até janeiro.
O custo médio da mão de obra, por sua vez, teve evolução oposta, com alta de 0,87% em janeiro, superando tanto o resultado de dezembro (0,15%), quanto o de janeiro de 2021 (0,78%). Além da contribuição dos acordos coletivos para a alta de janeiro, como mencionado anteriormente, outro fator a alimentar a alta do custo da mão de obra em janeiro, como bem apontou o IBGE, foi o aumento do salário mínimo nacional em 10,2%, para R$ 1.212,00, impactando a remuneração das categorias sem qualificação, cujo piso é muito próximo a esse valor. Em contraste com a evolução do componente associado aos materiais, a taxa de variação acumulada em doze meses do custo da mão de obra voltou a acelerar, passando de 6,78% até dezembro para 6,87% até janeiro, voltando ao patamar observado em outubro de 2021 (6,88%), que se constituiu na maior taxa do ano passado nessa base de comparação.
Em termos monetários, em janeiro, o custo nacional médio atingiu R$ 1.525,48 por metro quadrado, com R$ 915,79 correspondendo ao componente material e R$ 609,69 à mão de obra. Em termos regionais, os custos por metro quadrado no primeiro mês do ano foram de R$ 1.525,10 na região Norte, de R$ 1.433,20 na região Nordeste, de R$ 1.579,80 no Sudeste, de R$ 1.599,93 no Sul e de R$ 1.515,22 na região Centro-Oeste.
Matéria publicada na Grandes Construções