O impacto da tecnologia digital sobre o clima deverá ser cinco vezes mais positivo do que a pegada digital total até 2030. Isso é demonstrado pelo 'Digital4Climate', primeiro estudo belga a fornecer números científicos sobre o potencial da tecnologia digital para reduzir o CO2 no país europeu.
Realizado em colaboração com a Accenture, o estudo da Agoria mostra que em 2019 as emissões de CO2 na Bélgica se elevaram a 116,5 megatoneladas. Até 2030, por meio da implementação de soluções digitais nos setores com maior intensidade de CO2, as emissões serão reduzidas em 10,4 a 13,3 megatoneladas – ou cerca de 10% do total de emissões belgas.
Pela proposta europeia “Fit for 55”, as emissões na Bélgica teriam de cair para 87 Mt de CO2, de acordo com a estimativa inicial. A boa notícia, portanto, é que a tecnologia digital pode ser responsável por cerca de 30% desse objetivo.
O potencial de redução foi comparado com a pegada total do setor digital, que é responsável por cerca de 2% das emissões no país. A pegada digital diminuiria de 2,8 para uma faixa entre 2,2 e 2,6 megatoneladas de CO2, devido à melhoria da eficiência energética e à diminuição da intensidade de CO2 na rede elétrica.
Tendo em vista o compromisso dos operadores de telecomunicações e centros de dados de utilizar apenas energias renováveis até 2030, a pegada das redes e centros de dados é reduzida em mais 48%.
O relatório examina ainda o potencial de redução de carbono das tecnologias digitais na Bélgica com base em 15 soluções dos setores com maior pegada de carbono, incluindo construção, mobilidade e logística, além de indústria e energia.
Foram calculados dois cenários em função do grau de adoção das soluções e tecnologias digitais examinadas. Dependendo do cenário, a redução de CO2 nesses setores é de 4,7 a 5,2 vezes maior que o total da pegada digital belga atual. Portanto, quanto mais forte for a digitalização, mais ela pode induzir à redução de CO2.
No setor da construção, que tem a maior pegada entre os setores analisados, de 8,3% a 10,8% das emissões totais podem ser reduzidas, principalmente por meio de tecnologias como Building Management System (BMS) e Building Information Modelling (BIM).
Na indústria, que é responsável por 29% das emissões belgas (33,6 megatons), a indústria de processamento (químicos, metais e cimento) é a que mais contribui. A indústria também conta com as tecnologias com maior potencial, como gêmeos digitais, inteligência artificial, internet industrial das coisas e simulação e análise, que juntas podem reduzir as emissões em 3,4 a 4,2 megatoneladas de CO2, ou cerca de 10 a 12,3% do total de emissões do setor.
Por sua vez, o setor energético pode alcançar uma redução de carbono de 12% a 14,5% através de tecnologias digitais que catalisam a transição para a energia verde.
No setor de mobilidade e logística, as tecnologias digitais podem poupar entre 10,6% e 14,2% do total de emissões. Os fatores mais importantes são a redução da necessidade de transporte, sistemas de tráfego inteligentes e redução do transporte de mercadorias através de navios, por exemplo.
O estudo conclui que as empresas, os governos e os cidadãos também desempenham um papel importante na implantação de tecnologias digitais em benefício do clima. As empresas que abraçam a transição verde digital estão ganhando cada vez mais "pontos positivos de sustentabilidade" de seus clientes e, portanto, uma vantagem competitiva.
“Mas as autoridades públicas são indispensáveis para o sucesso dessa ‘dupla transição’, que une competências digitais e ecológicas”, destaca o documento.
Matéria publicada na Grandes Construções