Os resultados do PIB brasileiro e do PIB da construção no primeiro trimestre foram analisados e discutidos na Reunião de Conjuntura do SindusCon-SP, conduzida por Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia da entidade, com a participação do presidente Yorki Estefan.
Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da Construção do FGV/Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), afirmou em sua apresentação ser difícil explicar o motivo da queda do PIB da construção, de 0,5%, no primeiro trimestre deste ano, comparado ao trimestre anterior. Mas, acrescentou, ainda há um efeito de carregamento positivo que vem do ano passado, o que levará a um crescimento do PIB da construção em 2024, mesmo se os resultados dos próximos trimestres repetirem a queda de 0,5%. E destacou a elevação de 2,1% do PIB da construção no primeiro trimestre, na comparação com o mesmo período do ano passado.
A economista mostrou que o número de ocupados na construção e o salário médio real do setor vêm apresentando incrementos. A proporção do número de empregados com carteira assinada é maior do que em 2019. O saldo líquido de empregados no primeiro quadrimestre cresceu 16%, na comparação com o mesmo período do ano passado. O estoque de empregados do setor na cidade de São Paulo se elevou 9%, na mesma comparação. As vendas de materiais de construção para as famílias ainda não deslancharam, em parte devido ao início de ano mais chuvoso do que o usual – o que pode explicar a queda do PIB do setor no primeiro trimestre, segundo Ana Castelo. E o consumo de cimento em abril apresentou elevação.
A escassez de mão de obra segue como uma das principais preocupações do setor, no contexto de aquecimento da construção, prosseguiu. Já os custos do setor medidos pelo INCC-M mostram elevação em 2024, puxada pelo aumento dos custos com a mão de obra. Cabos elétricos, brita, areia e blocos de concreto figuram como as principais altas entre os materiais.
Na cidade de São Paulo, os lançamentos e as vendas cresceram expressivamente nos primeiros meses deste ano, comparados ao mesmo período do ano passado. Ana Castelo destacou que, apesar das condições de crédito continuarem difíceis, as vendas no mercado imobiliário seguem fortes, e a valorização dos imóveis voltou a se elevar em termos reais. Segundo ela, isso continuará representando desafios em termos de obtenção de mão de obra e do funding necessário para fazer frente à demanda. O FGTS precisa atender a uma maior demanda, e há expectativa de que o governo eleve os recursos para o SBPE.
Cenário econômico
Robson Gonçalves, professor da FGV, analisou os resultados do PIB brasileiro do primeiro trimestre, que vieram ligeiramente acima da mediana das expectativas. Considerou positivo o incremento de 0,8%, na comparação com o trimestre anterior, com destaque para o resultado da indústria de transformação. Comentou que a economia está rodando em nível acima daquele registrado antes da pandemia.
Ele assinalou que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), onde se inserem as obras de construção, está em alta pelo segundo trimestre consecutivo, na série dessazonalizada. A questão fiscal está sendo empurrada há três governos, prosseguiu, mas o crescimento do PIB lhe proporciona um alívio, devido ao aumento da arrecadação. O cenário enseja menos pessimismo, concluiu.
Yorki Estefan afirmou que ainda não sente otimismo com as medidas do governo, por parte do empresariado. Disse que o INCC não tem refletido aumentos expressivos, como o do concreto. E questionou a valorização dos imóveis apontada pelo IGMI-R.
Gonçalves afirmou que os resultados do PIB ensejam uma ligeira diminuição do pessimismo em relação ao governo, embora não o redima de seus desacertos. Ana Castelo disse que o INCC-M reflete o que está captando, e disse que construir hoje está mais caro do que antes da pandemia. Em relação ao IGMI-R, explicou que o indicador abrange imóveis novos e usados, estes em maior número.
Escassez de mão de obra
Eduardo Capobianco, representante do SindusCon-SP junto à Fiesp, disse perceber mudança na estrutura de oferta de mão de obra, dificultando até o emprego de pessoal não qualificado. Perguntou sobre a elevação da cotação do dólar. E indagou se reformas também entram na FBCF.
Gonçalves afirmou que a capacidade de a FBCF gerar crescimento pode ser limitada por reformas e também pela falta de produtividade. Afirmou que a elevação do dólar não significa necessariamente uma queda da confiança, e sim a migração de investimentos financeiros para os Estados Unidos, por conta da manutenção dos juros elevados lá. Num cenário de insegurança mundial, outros investidores migram para ouro e criptoativos, acrescentou. Para a construção civil, a redução dos juros aqui é uma boa sinalização para os negócios no médio prazo.
Ana Castelo afirmou que a uberização da economia leva a uma diminuição de mão de obra para a construção, o que só seria solucionado com remuneração maior, mas para isso seria necessário também elevar a produtividade dos processos construtivos e dos trabalhadores.
Eduardo Zaidan comentou ser necessário melhorar a condição de trabalho nos canteiros de obras, mediante uma alteração da metodologia produtiva para se ter trabalhadores qualificados. É preciso atrair, educar e manter o trabalhador, destacou.
David Fratel, coordenador do Grupo de RH do CTQ (Comitê de Tecnologia e Qualidade), afirmou sentir que há uma queda de produtividade na construção, na comparação com o período pré-pandemia. Ana Castelo concordou, embora assinalando que também há um problema de escassez de mão de obra qualificada, já que muitos profissionais buscaram outros mercados naquele período.
Alexandre de Oliveira, do CTQ, observou que a finalização de cada obra sem perspectiva de o trabalhador seguir na empresa, e a falta de planos de carreira na construção também contribuem para a escassez de mão de obra.
Matéria publicada no Sinduscon-SP