Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Governo eleito precisa reverter expectativas

A necessidade de o governo eleito reverter expectativas pessimistas do mercado em relação ao desempenho da economia em 2023 foi debatida na reunião de Conjuntura do SindusCon-SP em 6 de dezembro, conduzida por Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia da entidade, com a participação de Odair Senra, presidente.

Zaidan considerou que a indústria da construção enfrentará uma agenda de desafios em 2023, dentro de um sistema econômico bastante debilitado. Segundo ele, o setor só investirá no aumento da produtividade se tiver um horizonte de produtividade, e hoje enfrenta dificuldades como encontrar mão de obra para serviços básicos.

Tarefas do governo eleito
Falando das expectativas em relação ao governo eleito, Robson Gonçalves, professor da FGV, afirmou que a transição de governo não está caminhando no sentido de reversão de expectativas. Considerou uma postura realista a expectativa do presidente eleito de recuperar a ancoragem fiscal apenas em dois anos. Chamou a atenção para a necessidade de conciliar políticas sociais com o combate à inflação, o que depende de uma reforma tributária que fomente à produtividade. E mostrou que há necessidade de definir uma política de reformas, compatibilizando visões contraditórias dentro do governo eleito.

Gonçalves atribuiu o pessimismo captado pelas diversas sondagens à frustração das elites de empresários e de consumidores em relação ao resultado das eleições. Daí que, a seu ver, a reversão das expectativas deva ser a primeira das prioridades do governo eleito.

Para o professor, faz sentido a proposta do ministro Guedes de realizar a ancoragem fiscal na relação dívida/PIB. Comentou ser preciso o governo eleito definir qual será o horizonte para a reancoragem, tendo em vista que em 2023 ainda haverá desrespeito ao teto de gastos.

Acrescentou que aconteceriam independentemente do resultado das eleições: o repique inflacionário vivido, os efeitos que a alta da Selic, a instabilidade em relação às consequências da guerra da Rússia contra a Ucrânia, os novos lockdowns da China e os efeitos da aceleração da alta de juros nos Estados Unidos.

As expectativas são voláteis: assim como caíram após as eleições sem que houvesse fundamento para isso, podem voltar a cair ou se elevarem nos primeiros meses do próximo governo, disse o economista.

Gonçalves afirmou esperar que, na equipe do futuro Ministério da Fazenda, haverá interlocução com o mercado. Comentou que as várias políticas de desenvolvimento foram desarticuladas no governo Bolsonaro. Preconizou trazer as políticas de educação, privatização e habitação para o desenvolvimento econômico, e articulá-las. E criticou a extinção do Ministério das Cidades.

Perspectivas da construção
Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV/Ibre, estimou que o PIB da construção cresça cerca de 7% em 2022, equivalente ao desempenho de 2016.

Para 2023, Ana Maria estimou crescimento de 2,4% em 2023, puxado pelo segmento de empresas, que poderá evoluir 3,5%, enquanto os demais cresceriam por volta de 1%. Comentou que preocupam: o elevado endividamento das famílias, a perspectiva de crescimento menor do mercado de trabalho e da renda, e como a questão fiscal irá influenciar.

De outro lado, acrescentou, os preços das commodities poderão seguir em baixa. A dinâmica dos segmento imobiliário e de infraestrutura deve seguir, principalmente se houver reversão de expectativas negativas, e há indicações de reativação do segmento de habitação econômica.

A economista mostrou que o PIB da construção cresceu pelo quinto trimestre consecutivo no terceiro trimestre deste ano. O setor também exibiu uma desaceleração mais suave do que havia sido previsto, com crescimento acumulado de quase 9% em 12 meses.

De acordo com Ana Castelo, a construção formal é que está determinando esse crescimento, e não o consumo de materiais de construção pelas famílias, que tem declinado. Outras sinalizações disto são o aumento da renda e do emprego formal no setor. O ritmo de crescimento do emprego da construção está acima da média de geração de empregos do país.

O emprego está crescendo em todos os segmentos da construção, com destaque para serviços e edificações. E a atividade segue aquecida, prosseguiu.

Já em relação às expectativas, a economista comentou que há possibilidade de elevação dos investimentos em infraestrutura, embora os recursos privados não sejam suficientes para substituir os públicos. No segmento imobiliário, as vendas ainda mostram crescimento, mesmo com a elevação das taxas de financiamento, enquanto os lançamentos estão em ligeiro declínio. Ela considerou uma boa surpresa o baixo índice de distratos. No segmento popular, os ajustes feitos pelo governo no programa Casa Verde e Amarela foram relevantes para a atividade. E as elevações de preços dos materiais têm desacelerado.

Ana Castelo lembrou, entretanto, que as propostas de reforma tributária tendem a desfavorecer a indústria da construção, visto como setor favorecido. A seu ver, o setor precisa se posicionar, pois essa discussão virá com força. Gonçalves comentou os assessores dos parlamentares neste tema desconhecem a construção civil e que os Estados já estão se articulando para elevar o ICMS.

Matéria publicada no Sinduscon-SP

 

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