Desde que a Rússia começou os ataques à Ucrânia, o cenário econômico em todo o mundo ficou instável. As commodities sofreram impacto imediato – logo após a ofensiva russa, o petróleo e alguns alimentos como o trigo e o milho já ficaram em alta. Nos primeiros dias de guerra, houve um grande aumento no preço do barril de petróleo (superou a marca dos 100 dólares pela primeira vez desde setembro de 2014). Além disso, após o conflito, o dólar flutuou bastante. Neste cenário, como fica a estimativa para o setor de construção aqui no Brasil? Haverá algum impacto sobre os custos dos materiais de construção?
Em países da Europa, como Portugal, os impactos já são sentidos. Em dezembro, antes da guerra eclodir, quando Putin começou a fazer anúncios sobre a possibilidade de um conflito, os custos de construção de habitação nova aumentaram 6,8% se comparado ao mesmo período do ano anterior, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) de Portugal. O mesmo aconteceu com os preços dos materiais, que aumentaram 8,0%, enquanto o custo de mão de obra subiu 5,1%.
Na opinião de Rodrigo Navarro, presidente da ABRAMAT (Associação Brasileira de Indústria de Materiais de Construção), a alta do câmbio, a alta do preço do petróleo, e impactos gerados pelas sanções e movimentações globais de diferentes governos e mercados geram pressões sobre os custos de materiais e contribuem para desequilibrar as cadeias de suprimentos de diversos setores. “Há muita incerteza ainda no cenário e faltam estimativas das dimensões dos possíveis impactos. O aumento no preço do barril de petróleo sem dúvidas é um fator relevante, que pode impactar custos de diversas matérias-primas e insumos para as indústrias de materiais. Ao mesmo tempo, a instabilidade cambial influencia principalmente nas indústrias que dependem de matérias-primas e alguns insumos importados”, opina.
Projeções da construção civil para 2022 no Brasil
De acordo com Navarro, a previsão para 2022 para a indústria de materiais é de crescimento de 1% sobre o ano de 2021. “Vale lembrar que em 2021 o setor de construção recuperou as perdas de 2020 e teve forte crescimento. O PIB setorial atingiu a marca de 9,7%, que se refletiu em crescimento de 8,1% no faturamento dos materiais”, explica.
No entanto, ainda há muitas incertezas. “Em primeiro lugar, no cenário internacional ainda há questões associadas à pandemia, e mais recentemente à imprevista guerra, e no cenário interno, associadas à inflação e alta das taxas de juros de financiamentos, que poderá reduzir a demanda por materiais de construção no médio prazo”, pontua Navarro.
Matéria publicada no Massa Cinzenta