Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Modern Construction Show aborda os desafios da industrialização da construção

Durante o Modern Construction Show 2024, foi apresentada a Sondagem da Construção em Sistemas Industrializados. Elaborada pela FGV/IBRE e encomendada pelo Modern Construction Show, essa pesquisa inédita mostrou que 64,5% das empresas utilizam sistemas industrializados, sendo o principal segmento o residencial, com 50,8% das obras.

A pesquisa foi realizada entre 15 de maio e 14 de junho, com 510 empresas de todas as unidades da Federação, abrangendo os setores de edificações (residenciais e não residenciais), infraestrutura e serviços especializados.

Entre os sistemas industrializados mais utilizados estão kits elétricos (82,1%), estruturas pré-fabricadas de concreto (70,5%), drywall (64,4%), estruturas de aço (60,2%) e kits hidráulicos (53,5%). Além disso, entre as empresas que afirmaram utilizar sistemas industrializados, 58,4% mencionaram que eles são empregados em no máximo 50% de suas obras, enquanto apenas cerca de 24% os utilizam em mais de 75% de suas construções.

A sondagem elaborada pela FGV IBRE também buscou entender as razões pelas quais 35,5% das companhias consultadas não adotam os sistemas industrializados. A maioria (54,1%) alegou não ter perfil, 11% indicaram falta de capacitação/capital humano, 8,8% mencionaram modelos de financiamento/medição/licitação, e 8,3% citaram falta de demanda e oferta.

“Buscamos entender por que essas empresas ainda não estão utilizando esses sistemas, já que hoje precisamos cada vez mais de eficiência, sustentabilidade e produtividade. A questão de ‘não ter perfil’ nos intrigou, e procuramos compreender melhor esse ponto. Vimos que, de fato, 15% realmente não têm perfil por serem empresas de locação de mão de obra. No entanto, as demais que alegaram não ter perfil utilizaram essa opção para justificar o não uso dos sistemas industrializados, na verdade, são empresas que ainda não se depararam com a necessidade de adotar esses sistemas”, explica Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção da FGV/IBRE.

Mão de obra especializada

Dentre as empresas que utilizam processos industrializados, a principal dificuldade enfrentada é a falta de mão de obra especializada, mencionada por 50,5%. Em seguida, estão a falta de capacitação dos projetistas (36,5%), a tributação mais alta em relação ao sistema convencional (31,3%), a falta de aceitação pelo mercado (30%), inviabilidade econômica (28,8%) e a falta de capacitação dos gestores (28,2%). “Se somarmos os fatores falta de mão de obra especializada, falta de capacitação dos projetistas e gestores, nós temos aí uma dificuldade que é a qualificação pessoal em todos os níveis. Essa é uma questão importante sobre a qual o setor precisa se debruçar se quiser avançar nos níveis de utilização dos sistemas industrializados”, alerta Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção da FGV/IBRE.

Ricardo Monteiro, diretor técnico da incorporadora SETIN e membro da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAINC), lembra que hoje uma das questões mais discutidas na construção civil é a falta de mão de obra. Por outro lado, Monteiro ressalta que hoje a média de idade dos profissionais da construção civil tem aumentado e que não está havendo a renovação de mão de obra: “Certamente, os jovens preferirão trabalhar numa obra off-site, em que a construção vem de fora. Esta é uma vantagem para a construção industrializada”, pontua.

Tributação

Tal como apresentado na Sondagem, Monteiro e André Rebelo (diretor executivo de Gestão, Infraestrutura e Construção Civil da Federação das Indústrias do Estado do Paraná – FIEP), pontua que hoje há uma assimetria tributária no Brasil. Eles citam percentuais relevantes para a construção on-site (em que se paga apenas o ISS), de 3% a 5%, comparado a construção off-site (industrializada), em que há incidência de 21,24% de ICMS e 3,25% de IPI, além do PIS/Cofins.

Após a reforma tributária, Rebelo afirma que deverá haver um modelo neutro de tributação, sem distinção entre serviços e bens, com a eliminação do acúmulo de crédito não compensado e a recuperação de todos os créditos da cadeia de forma célere. “Também deve haver o fim dos incentivos indiretos ao modelo de construção tradicional, equalizando custos, o que garante que o modelo mais produtivo (o industrializado) e, portanto, mais barato/eficiente, possa ser amplamente adotado pelas empresas do setor. Como resultado, deixará de existir um entrave ao desenvolvimento tecnológico da indústria da construção, com um mercado mais descentralizado e a recuperação do crédito tributário garantido na cadeia de produção”.


Segundo Rebelo, o cronograma da mudança começa com uma alíquota de 1% em 2026, como forma de calibragem. Em 2027, será implementado o imposto federal completo, substituindo o PIS/Cofins pela CBS. A parte estadual, que tem o maior peso, passará por uma transição de sete anos. “Mas acredito que o impacto não levará uma década para ser percebido. Quando todos entenderem como o sistema vai funcionar, por volta do terceiro ou quarto ano da reforma, o mercado já estará ajustado. Em 2028, as mudanças começarão a ser mais significativas, e a construção industrializada ganhará espaço, pois será economicamente vantajosa. No entanto, haverá o desafio de capacitar as pessoas para realizar e instalar esses processos, o que ainda exigirá tempo de aprendizado. Acredito que a partir do quarto ano, a industrialização valerá a pena e ganhará competitividade”, ressalta Rebelo.

Rebelo ainda destaca que a Reforma Tributária está em andamento, aguardando aprovação final. “A regulamentação já foi aprovada na Câmara e agora está em análise no Senado. Há uma promessa de que será regulamentada após as eleições, mas ainda precisamos garantir que o texto final seja aprovado”, afirma.

Financiamento

Monteiro também destacou o modelo de financiamento como um grande entrave para a industrialização, devido à falta de incentivo à poupança. Com a adoção desta estratégia, o cliente poderia se financiar em um prazo muito mais curto.

Hamilton de França Leite Jr., head São Paulo da Brain Inteligência Estratégica, propõe algumas soluções para aumentar a eficiência do financiamento habitacional e incentivar práticas de construção mais modernas e sustentáveis:

•    Extensão do valor financiado para imóveis: Ter uma linha de financiamento que cubra 100% do valor do imóvel. Com isso, elimina-se a necessidade do comprador dispor de uma parcela durante o período pré-chaves, o que já é uma realidade significativa no programa Minha Casa, Minha Vida, especialmente para famílias de baixa renda. No entanto, essa abordagem ainda enfrenta dificuldades para atender indústrias voltadas para rendas médias e altas.
•    Construção de operações com fundos: Trazer o mercado de capitais para o cenário. Esse mercado é geralmente mais flexível que os bancos, possibilitando a criação de modelos que atendam melhor às necessidades dos incorporadores, em comparação com os bancos privados, que muitas vezes impõem diversas limitações e dificuldades.
•    Redução de prazos: Estimular a redução de prazos por parte dos financiadores, mantendo o controle sobre a qualidade das obras.
•    Poupança programada: Implementar programas de poupança programada para aquisição de imóveis, similar a práticas observadas em outros países, com foco em habitação de baixa renda.
•    Seguros: Utilizar seguros como forma de mitigar riscos para instituições financeiras, garantindo que os materiais produzidos na indústria sejam utilizados nas obras financiadas.
•    Fundo Garantidor Setorial: Criar um fundo garantidor setorial para facilitar empréstimos antes da medição, com a participação de entidades representativas do setor.
•    Sistematização de financiamentos: Padronizar os contratos e as operações de financiamento para empresas que apresentem qualidade.
•    Financiamentos verdes: Expandir as condições de financiamento para obras com certificações ambientais, oferecendo taxas de juros diferenciadas.
•    Recomendações ao governo: Normatizar as operações de financiamento, permitindo a medição de materiais off-site e oferecendo incentivos econômicos, como a redução de taxas de juros, para promover a construção industrializada e sustentável.

Matéria publicada no Massa Cinzenta

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