A partir de 2023, a NBR 15873:2010, conhecida como a norma brasileira para Coordenação modular para edificações, deverá passar por uma revisão e ganhar uma atualização.
Segundo Dóris Zechmeister Bragança Weinmann, arquiteta e urbanista, mestre e doutora em Engenharia Civil com ênfase em Construção pelo Núcleo Orientado para a Inovação da Construção da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Norie – UFRGS), a coordenação modular é uma teoria de organização dimensional dos elementos, sistemas e componentes da construção civil provenientes de diferentes fabricantes. Dóris menciona uma definição do professor Hélio Adão Greven sobre a coordenação modular: “trata-se da ordenação dos espaços na construção civil”.
Dóris ainda cita uma definição presente no documento ME-EDITAL N0 32019 – RELATÓRIO 8.2.1; 2022, da Rede Catarinense de Inovação: “É a coordenação dimensional mediante o emprego do módulo básico (10 cm) ou multimódulo (n x 10 cm), na qual há a inter-relação de medidas dos componentes, elementos e sistemas e das edificações que os incorporam, sendo usada para seu projeto, sua fabricação e sua montagem”. Um exemplo disso, mencionado por Dóris é o da placa de gesso acartonado, que pode ser empregada em diversos sistemas construtivos. “Ela possui uma dimensão de largura de 1,20 m, o que corresponde a 12 módulos. Esse 1,20 m também pode ser dividido cada 40 cm, por exemplo – o que seria 4M, porque M é a representação dos 10 cm”, explica Dóris.
De acordo com Dóris, os principais objetivos da coordenação modular são:
• Ampliar a cooperação entre os agentes da cadeia produtiva;
• Racionalizar a variedade de medidas modulares empregadas na fabricação de produtos;
• Aumentar a intercambialidade dos produtos construtivos;
• Reduzir tempo de projeto e detalhamento;
• Trazer benefícios através do aumento do uso de softwares como o BIM;
• Reduzir os custos da fabricação e instalação;
• Promover a industrialização aberta;
• Alinhar a construção civil aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável;
• Reduzir desperdício de materiais, mão de obra e tempo;
• Usar conscientemente os recursos naturais;
• Facilitar a pré-fabricação;
• Aumentar a competitividade.
Revisão da norma
Dóris aponta que a teoria da coordenação modular passou a fazer parte da norma de diversos países e o Brasil foi um dos primeiros a ter norma sobre o tema. “Isso é datado das décadas de 50-60. Em 2010, foi feito um esforço para que as 25 normas que existiam antes fossem agrupadas em uma única – antes elas estavam espalhadas. O resultado pode ser visto na NBR 15873:2010. Ela ficou muito bem escrita e fez um apanhado bom. Recentemente, fizemos nossa primeira reunião e abrimos o comitê para revisar a norma de 2010”, revela Dóris.
Um dos acontecimentos que motivou a reformulação da norma foi Projeto Construa Brasil, um edital do Ministério da Economia, do qual participaram muitas entidades, universidades, os mais diversos setores da construção civil. Segundo Dóris, ele estava focado em três grandes eixos: desburocratização, digitalização e industrialização. Fazia parte dele a meta 8, uma nota específica de coordenação modular. Dóris, que foi uma das coordenadoras da equipe executiva, conta que foi feita uma identificação e mapeamento das normas da construção civil. “Reunimos 1.288 normas e fizemos uma avaliação de todas. Dessas, selecionamos aquelas que poderiam ter a ver com questões dimensionais, já que coordenação modular é uma questão de dimensão. Nós identificamos em torno de 113 normas para dialogar com a norma de coordenação modular”, afirma.
Consequentemente, o Projeto Construa Brasil teve como produtos duas normas: uma de plataformas (norma nova) e outra de Coordenação Modular (revisão da NBR 15873:2010). A primeira diz respeito aos sistemas base que oferecem suporte a diversos componentes e módulos, viabilizando a integração e a combinação de elementos construtivos de forma modular.
Para a atualização da NBR 15873:2010, dentre as sugestões de mudanças está a inserção de novos termos e definições. “Entre 2010 e 2023, muita coisa mudou na construção civil. O termo BIM, por exemplo, ainda não estava presente na norma de 2010. Então, acrescentamos esta definição e as relações que ela traz para as questões de projeto. Dentre outros termos que devem ser adicionados estão construção modular, industrialização aberta e industrialização fechada”, lembra Dóris.
Além dos termos e definições, há uma nova parte que traz a representação gráfica. “Já existiam imagens representando graficamente o que era a coordenação modular, mas não existia uma explicação de como fazer uma representação no projeto arquitetônico dizendo que ele é coordenado modularmente. Para isso, devem ser inseridas notações gráficas”, justifica Dóris.
Tal como a versão anterior, a norma ainda traz os princípios de coordenação modular. Segundo Dóris, esta parte foi reorganizada e dividida em quatro princípios: sistema de referência, sistema modular de medidas, sistema de ajustes e tolerâncias, sistema de números preferenciais. Ainda foram inseridos novos objetivos, mais alinhados com as questões atuais, além de uma complementação da referência normativa.
A parte final da norma deve ganhar dois novos capítulos. O primeiro deles é sobre diretrizes projetuais para edificações, que é focado no projetista/arquiteto, para que ele saiba como fazer um projeto coordenado modularmente. E o segundo trata de diretrizes projetuais para produtos, direcionado para uma indústria que quer adequar seus produtos à coordenação modular.
Matéria publicada no Massa Cinzenta