O uso de argila calcinada para substituir o clínquer tradicional à base de calcário na produção final de cimento é essencial para reduzir os danos ao meio ambiente. Para descarbonizar ainda mais a indústria de cimento, especialistas líderes da indústria formaram uma nova parceria chamada ECoClay. Com o objetivo de reduzir em até 50% as emissões de CO2 da produção de cimento, os parceiros da ECoClay desenvolverão e comercializarão a tecnologia necessária para substituir os combustíveis fósseis na calcinação da argila, eletrificando totalmente o processo. Ao fazer isso, a parceria ECoClay espera reduzir as emissões de CO2 em 10%.
Com base na pesquisa e em testes compartilhados sobre geração de calor elétrico de alta temperatura, soluções de armazenamento e integração de rede renovável, a parceria ECoClay construirá uma planta piloto no Centro de P&D da FLSmidth na Dinamarca. O consórcio procurará demonstrar como o processo ECoClay é superior aos processos de combustão convencionais, além de emissões significativamente menores de poluentes atmosféricos.
De acordo com o plano do projeto, os parceiros da ECoClay esperam poder iniciar a construção da primeira instalação elétrica de calcinação de argila em grande escala até o final de 2025.
Como funciona?
De acordo com John O’Donnell, CEO da Rondo Energy – uma das parceiras envolvidas na iniciativa-, a tecnologia captura eletricidade renovável intermitente e a armazena para entrega como calor contínuo em escala industrial de alta temperatura, oferecendo benefícios de ordem econômica, ambiental e social ao substituir os combustíveis. “A argila calcinada não tem emissões intrínsecas (processo mineral). Ao substituir a combustão de combustível que alimenta o processo de calcinação por eletricidade renovável, a parceria EcoClay proporcionará reduções de emissões rápidas, práticas e de baixo custo em grande escala. Com isso, poderá construir a base para o cimento zero”, explica O’Donnell.
“A produção de argilas calcinadas é uma excelente chamada para materializar as oportunidades que a eletrificação pode trazer à nossa indústria.”, explica Tomás Restrepo, vice-presidente de Pessoas e Transformação na Cementos Argos.
Redução de CO2 no Brasil
O Brasil é atualmente uma das referências mundiais quando o assunto é a redução da quantidade de clínquer no cimento. O Roadmap Tecnológico do Cimento, publicado pelo Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), prevê que, com a diminuição da razão clínquer/cimento de 67% em 2014 para 52% em 2050, seria possível evitar a emissão cumulativa de 290 Mt de CO2. Segundo o relatório, isto representa 69% do potencial de redução do setor até 2050. A expectativa de diminuição na disponibilidade de escórias siderúrgicas e cinzas volantes no longo prazo levará o setor a buscar outras soluções, como ampliar o uso de fíler calcário e argilas calcinadas.
Ainda de acordo com o Roadmap, o Brasil já possui razoável experiência no uso de argilas calcinadas, que possuem distribuição quase irrestrita em todo o território. “Seu uso isolado como adição já dispõe de uma base normativa. Sua fabricação, entretanto, implica menor potencial de mitigação de CO2, já que diferentemente das outras adições, a calcinação destas argilas irá demandar consumo de combustíveis e, consequentemente, CO2 resultante, embora cerca de um quarto das emissões do clínquer evitado. Adicionalmente, exige investimentos em maquinários e calcinação”, informa o relatório.
Assim, o relatório também aponta que a taxa média de substituição do clínquer deve ser menor que a do fíler calcário, mas pode ter seu uso estimulado em conjunto com o fíler calcário, mitigando seus efeitos indesejáveis na reologia do concreto. “Para tanto, uma nova base normativa deve ser criada, à semelhança do que já existe na Europa com outros materiais pozolânicos. Em menor escala e com potencial de crescimento difícil de prever, deve-se considerar as escórias ácidas e de aciaria. O incremento de seu uso em cimento vai depender de ações da indústria siderúrgica e da pressão da legislação ambiental, com investimentos para transformá-los em materiais utilizáveis pela indústria de cimento”, conclui o Roadmap Tecnológico do Cimento.
Matéria publicada no Massa Cinzenta