Por José Carlos Martins é presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)
Âncora da economia brasileira, a construção é responsável por quase 2,5 milhões de empregos com carteira assinada, cada vez mais qualificados. Isso é reflexo do crescimento positivo que o setor vem registrando nos últimos anos. Em 2022, a construção cresceu 6,9%, muito acima da economia nacional, que registrou elevação de 2,9%. Nos últimos dois anos, o crescimento da construção foi de 17%, fortalecendo a economia do país e proporcionando desenvolvimento social.
Paralelamente à força do crescimento do setor, avançam também as discussões sobre amadurecimento de métodos eficientes em termos de produtividade e sustentabilidade. Esses são dois temas que serão debatidos no 96º ENIC, que ocorre em abril. No evento, a construção vai comprovar que é responsável com o ambiente onde atua e que pode acelerar as mudanças positivas que ocorrem no mundo e na sociedade.
Assim como a construção tem grande capacidade de gerar empregos e um enorme efeito multiplicador na economia, também pode ser propulsora de ganhos socioambientais. Os investimentos no setor reverberam em outras atividades e garantem retorno no longo prazo em diferentes termos. Na prática, construção implica melhor qualidade de vida das pessoas.
No campo da produtividade, o setor quer puxar o desenvolvimento do país com sistemas mais planejados e industrializados, reduzindo desperdícios e consumindo menos insumos e energia. Dessa forma, a construção tem buscado alternativas para aumentar a eficiência em novos modelos, não só durante a obra, como depois de pronta a construção.
Um estudo do Sebrae apontou que os principais fatores a impactar a produtividade no setor são: capacitação e treinamento da mão de obra, uso apropriado da matéria prima, planejamento e controle das obras. No ENIC vamos debater, por exemplo, como o uso intensivo de máquinas e equipamentos aumentam essa produtividade, redução do custo de manutenção dos imóveis com novas tecnologias e novas oportunidades em PPPs e concessões.
No campo da produtividade, vamos debater, ainda, projetos e orçamentação em BIM, Design Structure Matrix (DSM), normas de desempenho, normalização técnicas e até metaverso. Isso porque, quanto mais eficiente o processo construtivo for, melhor será seu resultado para quem constrói e para quem usufrui da instalação. É nesse caminho que estão os principais avanços da tecnologia.
Essa tecnologia está mais atrelada à segunda palavra-chave: sustentabilidade. Em 2017, estudos já apontavam que o aumento de produtividade do setor no mundo em 1% poderia economizar US$ 100 bilhões por ano e reduzir drasticamente os impactos ambientais. Com novos processos produtivos temos uma atenção especial para as pessoas que constroem e que são atendidas pelas obras.
E o Brasil vem caminhando nessa direção. Dados do ano passado revelam que o Brasil é o 5º país do mundo com maior número de “edifícios verdes” certificados. Esse é um bom índice, mas ainda indica desafios e resistências.
No 96º. ENIC, que ocorrerá junto com a FEICON deste ano, vamos trazer o foco para a discussão de uma oportunidade sustentável e positiva que vem surgindo: a construção com madeira. Inovações tecnológicas e a maior conscientização das pessoas vêm despertando olhares para esse segmento, com enorme potencial no Brasil por suas características naturais. De cara, a madeira – por seu caráter renovável – pode significar captura de carbono em vez de emissões em ao menos parte da cadeia produtiva.
O território brasileiro, por sua extensão, conta com diferentes tipos de clima e nem todas as localidades têm o sistema tradicional sem madeira como o mais adequado. Regiões mais remotas e distantes dos centros urbanos levam a oportunidades de se introduzir elementos na construção com madeira. Seriam caminhos, inclusive, de construções mais acessíveis, como forma de se combater o déficit habitacional em determinadas localidades.
Outra ação que vai estar em evidência no ENIC com potencial de expansão é o processo de etiquetagem de edifícios. O método objetiva melhorar a qualidade de projetos na construção, e fornecer ao consumidor, assim como já acontece em equipamentos elétricos domésticos, informações sobre o desempenho energético do empreendimento. Com a expansão desse costume, será mais comum a avaliação dos imóveis com base em sua eficiência energética.
O futuro da construção está atrelado à maior preocupação com temas como produtividade e sustentabilidade, tendo a tecnologia como aliada desse processo. O ENIC é o palco para debater inovações e apresentar transformações. Essa é a resposta da CBIC sobre a responsabilidade do setor com o desenvolvimento sustentável do país.
Matéria publicada na Agência CBIC