Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Seminário debate perspectivas da industrialização da construção residencial

Para fazer avançar a industrialização na construção residencial no Brasil, o SindusCon-SP e a AsBEA-SP (Associação Regional de Escritórios de Arquitetura de São Paulo) realizaram um seminário híbrido em 11 de agosto. O evento foi marcado pela convergência de diagnósticos sobre as dificuldades à expansão da construção industrializada e pela apresentação de casos de sucesso em sua implementação. A engenheira Íria Doniak, presidente executiva da Abcic, representou a entidade na ocasião.

Abrindo o seminário, Odair Senra, presidente do SindusCon-SP, destacou que boa parte das construtoras tem adotado “os projetos e as tecnologias construtivas que trazem inúmeros benefícios em termos de qualidade e produtividade. Entretanto, ainda esbarramos em dificuldades para adotar a industrialização na construção residencial. A busca da superação dessas dificuldades uniu a AsBEA-SP e o SindusCon-SP num movimento para viabilizar essa industrialização e torná-la irreversível.”

Milene Abla Scala, presidente da AsBEA-SP, afirmou ser o papel das entidades catalisar as iniciativas, articular os elos da cadeia produtiva rumo à industrialização e disseminar a transmissão de conhecimentos. “Temos a certeza de que os benefícios da adoção da industrialização na construção residencial são maiores que as dificuldades enfrentadas para sua implementação”, destacou. Ela ainda assinalou a importância desta industrialização no retrofit, que a seu ver precisa ter prioridade nesta agenda, revitalizando os centros urbanos e proporcionando maior qualidade de vida aos seus moradores.

Políticas públicas

O secretário de Estado da Habitação, Flávio Amary, relatou os desafios que tem enfrentado para estimular a industrialização da construção residencial. Na secretaria foi realizado um seminário a respeito, ainda antes da pandemia. O governo deu apoio, houve conversas com três prefeituras que doaram terrenos para o Estado, porém nenhuma empresa se interessou na licitação para fazer um projeto piloto. Hoje há uma construtora que industrializa parte da produção habitacional em um projeto contratado pelo Estado. A solução do déficit habitacional passa pela industrialização da construção, concluiu.

O secretário Municipal de Habitação de São Paulo, João Siqueira de Farias, representando o prefeito Ricardo Nunes, comentou que o Programa Pode Entrar inovou e em breve vai adquirir diretamente 45 mil unidades habitacionais. Segundo ele, a Prefeitura está pronta a discutir como superar o desafio para construir as obras de interesse social com maior rapidez. Em outra frente, 300 unidades modulares serão construídas para diminuir o número de moradores de rua.

Panorama atual e propostas

O primeiro painel do evento apresentou um panorama de ações para industrialização.

Paulo Oliveira, CEO da Aratau, afirmou que só a industrialização da construção conseguirá dar conta da meta de redução do déficit habitacional, pelo aumento da rapidez na construção e do aumento da produtividade. Entretanto, a alta carga tributária não ajuda. Ele lembrou que o Construbusiness de 2021, da Fiesp, elencou propostas para impulsionar essa industrialização, como um novo regime tributário e mudanças no processo licitatório.

O desafio, segundo Oliveira, está em realizar a transição da construção tradicional para a industrializada, com a contribuição de tecnologias como o BIM (Modelagem da Informação da Construção) e a integração com startups. O caminho é racionalizar a construção, agregar-lhe produtos fabricados fora do canteiro, adotar módulos e a construção modular. Ao mesmo tempo, os projetistas devem ser estimulados e os fabricantes dos módulos se especializarem. “Não há mais espaço para o artesanato produtivo, é preciso transformar a construção numa indústria moderna e eficaz”, concluiu.

Ele observou que os clientes de alta renda não têm restrições aos produtos da construção industrializada, graças ao atendimento das normas como a de Desempenho de Edificações, com mínimos problemas no pós-obra. Chamou a atenção para a necessidade de se capacitar os estudantes e os profissionais que atuam no mercado, citando alguns cursos a respeito.

Oliveira se manifestou favorável à industrialização aberta, com o aperfeiçoamento de sistemas visando a elevação da produtividade. O problema é que as construtoras não sabem como e por onde começar, observou. Uma metodologia está sendo desenvolvida para ajudar na busca por maior produtividade pela modularização em várias etapas da obra.

José Marcio Fernandes, da TecVerde Engenharia, apresentou o movimento Brasil Viável, em favor da construção industrializada, suportado pelo C3 e pelo Enredes do CTE. Elencou as dificuldades para sua adoção, como: ausência de programas de governo estruturados voltados à industrialização; aumento dos preços dos insumos em descompasso com a evolução da renda das famílias; elevada tributação; insegurança jurídica; burocracia; códigos de obras com exigências construtivas diferentes a cada município; oferta limitada de financiamentos; divulgação das tecnologias nas universidades e reformas estruturais.

Para avançar, o movimento pretende criar o CUB da construção industrializada; fomentar a contratação de financiamentos; criar grupos de trabalho para formular ações com vistas a vencer os demais desafios, e divulgar e trazer mais empresas e entidades para apoiarem o movimento.

Fernandes relatou que já há uma grande interação com o cliente final, para quem o mais importante é o custo dos produtos da construção industrializada. Ele destacou que há empreendimentos entregues há 9 anos com durabilidade que deverá superar os 50 anos. Comentou que se abrem oportunidades para os profissionais de uma série de setores. E defendeu a criação de cadeias de suprimentos para a criação de escalas.

Dificuldades a serem superadas

O professor Vanderley John, da Aliança de Construção Modular, comentou a dificuldade de se implementar um novo sistema de construção em substituição à construção convencional, a qual, com todos os seus problemas, ainda é muito lucrativa e ensinada nas faculdades de engenharia. A Aliança está formando consórcios para impulsionar a construção industrializada, além de montar um diagnóstico sobre a questão e desenvolver um networking entre os participantes.

Ele apontou problemas como carga tributária; informalidade tira competividade da indústria formal, ao não pagar as obrigações e os encargos tributários; falta de robustez de casas pré-fabricadas ocasionando problemas futuros; falta de cultura de projeto para a construção modular; falta de engenheiros e pós-graduados familiarizados com a construção industrializada.

John afirmou ser preciso desenvolver tecnologia para aumentar a produtividade, e não imaginar que ela vá resolver problemas como a pobreza. Segundo ele, o Brasil tem apenas 20% da produtividade mundial e é nisso que se deve colocar a prioridade. Defendeu ainda aperfeiçoamentos da Norma de Desempenho.

Tecnologias demandam escala, lembrou. Nas fachadas, hoje dominam a alvenaria na construção residencial e o vidro na construção comercial. O desafio será criar padrões para a industrialização.

Atuação do governo federal

Laura Marcellini, diretora técnica da Abramat (Associação Brasileira de Materiais de Construção), historiou as ações já realizadas de 2008 para cá, a fim de impulsionar a construção industrializada. Hoje a entidade participa das ações do programa Construa Brasil, do governo federal, que tem 8 metas dentro dos temas de desburocratização, digitalização e industrialização da construção. As duas metas deste tema são incentivos à construção modular, via normas técnicas, e incentivos à construção industrializada.

A liderança desta última meta está a cargo da Abramat. Estão em andamento estudos e propostas sobre planejamento estratégico para a divulgação da construção industrializada no país (resumo já publicado), equalização tributária entre a construção convencional e a industrializada, modelos de financiamento e processos licitatórios (todos estes ainda em sigilo, por determinação do governo)

Laura comentou que há modelos de políticas para inspirar o setor e organizar o pleito da industrialização numa visão de longo prazo. Citou como exemplo a estratégia nacional para a adoção do BIM, lastreada em aquisições de governo e estímulos ao mercado.

Ela disse ser favorável à industrialização aberta, com o desenvolvimento de sistemas para elevar a produtividade das várias fases da obra desde a fase do projeto.

Os debates que se seguiram foram mediados por Paulo Mingione, membro do CTQ (Comitê de Tecnologia e Qualidade) do SindusCon-SP.

Casos de sucesso

No segundo painel, Luiz Henrique Ceotto, sócio da Urbic Incorporadora e da Tecnoeng, apresentou uma metodologia desenvolvida para a construção rápida de edifícios em pequenos terrenos em até dois anos desde a compra do terreno. Utilizando o BIM, desenvolve-se o projeto em um mês e se faz a aprovação em quatro meses pelo Aprova Rápido. A construção dura até 14 meses e a conclusão e entrega, em dois meses.

Para a industrialização da construção, buscou-se inspiração nos sistemas da indústria automotiva. Com precisão, a estrutura fixa todos os demais sistemas, reduzindo o número de fornecedores a 40. Com alta produtividade, montam-se três lajes por semana. Os componentes vão direto do caminhão para a obra. Módulos padronizados dos sistemas hidráulicos foram desenvolvidos e são encaixados nos shafts, seguindo-se a instalação dos dry-walls. A instalação elétrica também é padronizada. Praticamente não houve problemas no pós-obra. No início a estrutura era metálica, mas com a elevação dos preços do aço, passou a ser de concreto, com paredes pré-moldadas. A empresa está trabalhando no desenvolvimento de fachadas leves, que dispensa as gruas pesadas. “A industrialização da construção residencial é um caminho sem volta e vai se intensificar muito nos próximos anos. Se não a fizermos de maneira organizada, coordenada pelo setor, vamos sofrer muito”, concluiu.

Nessas obras, Ceotto tem conseguido reduzir o volume de entulho da construção industrializada, de 300 litros/m² para menos de 15 litros/m². A metodologia também elimina o pó da obra, o uso da força física, a sujeira do chapisco e melhor os salários dos montadores das estruturas. “Empresa de construção que está empilhando tijolo não pode falar de sustentabilidade”, alfinetou. Relatou ainda que está estudando a utilização de madeira engenheirada na cobertura dos prédios. “Temos que misturar os materiais e aproveitar o melhor de cada sistema. A melhor solução é sempre híbrida.”

 Ele destacou que foi preciso enfrentar a resistência da equipe de vendas, mas que ao final acabou convencida dos benefícios da industrialização. E afirmou que o papel dos arquitetos e projetistas é fundamental para compreender um novo sistema e realizar projetos inovadores e belos. 

Matéria publicada no Sinduscon-SP

              

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