Inovações promissoras em novos materiais e sistemas construtivos marcaram o 22º Seminário de Tecnologia de Estruturas de Edificações, que teve por tema “Como Aumentar a Produtividade e Garantir a Qualidade nas Estruturas”.
Integrante da Semana da Construção, o seminário foi coordenado por Jorge Batlouni, vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP, com debate mediado por Roberto Clara, membro do CTQ (Comitê de Tecnologia e Qualidade) do sindicato.
Aplicações do grafeno
As perspectivas de utilização de materiais construtivos com grafeno foram apresentadas por André Sartori, head da Operação Comercial da Gerdau Graphene. Os lançamentos dos primeiros produtos para a construção civil com este nanomaterial deverão acontecer no final do primeiro trimestre de 2022.
Segundo Sartori, o grafeno é 200 vezes mais resistente que o aço, oferecendo resistência, leveza, flexibilidade e transparência, além de ser muito bom condutor de calor e energia. Uma de suas aplicações em estudos é como aditivo em concretos e argamassas, melhorando suas qualidades mecânicas, trazendo impermeabilidade, auxiliando a redução do uso de água e tornando as residências mais confortáveis. A companhia espera aplicá-lo no fornecimento de concretos convencionais e de alta performance, pisos industriais, pré-moldados, pré-fabricados e argamassas.
Outra aplicação em estudos é em tintas anticorrosivas, proporcionando melhor aderência e maior resistência à abrasão, além de redução da espessura da camada aplicada. Também são promissoras as aplicações em plásticos (melhorando a resistência mecânica e à ação de químicos, e proporcionando condutividade térmica e elétrica, e até um efeito bactericida); em pneus e borrachas (dotando-os de condutividade e maior resistência química e a intempéries), e em lubrificantes (diminuindo a oxidação e elevando a resistência à corrosão). Desenvolvem-se ainda aplicações em embalagens, não tecidos, componentes automotivos e móveis.
Construção industrializada
Rosane Bevilaqua, especialista de Marketing de Construção Metálica da Gerdau, mostrou os benefícios da industrialização para o setor, especialmente a construção off-site e a modularização, com projetos em BIM (sigla em inglês para Modelagem da Informação da Construção) e outras ferramentas.
De acordo com Rosane, a construção fora do canteiro, em ambiente industrial, de forma paramétrica e racionalizada, permite racionalização na obra, montagem rápida, redução de patologias, maior precisão, alta qualidade dos sistemas e redução de prazos.
Ela discorreu sobre as duas modalidades da off-site: a construção volumétrica (3D), em que mais de 80% da edificação são produzidos fora do canteiro, e a painelizada ou itemizada (2D). A volumétrica, informou, exige alto grau de planejamento e construção modular, investindo-se mais tempo na etapa de projetos, e tem eficiência amplificada em edificações com até 16 pavimentos. Com isso, há pelo menos 50% de redução nos prazos de obra, potencial redução de até 20% dos custos com ganhos de escala, e elevado controle de qualidade, uma exigência para que os sistemas prediais se conectem corretamente.
Em grande parte das edificações nesta modalidade se utiliza um chassi em aço leve e preciso, no qual todos os sistemas vão se conectar. A leveza é importante para se conseguir içar os módulos na obra. As conexões são parafusadas, dispensando o uso de solda, com um mínimo de trabalho no canteiro. Os projetos são em BIM.
Rosane apresentou três cases de edificações nesta modalidade: o Hospital M’Boi Mirim, com 120 leitos, que levou apenas 33 dias, desde o projeto à finalização da obra, e engenharia 100% nacional; o Edifício Level, com 8 pavimentos, primeiro da América Latina executado de ponta a ponta em 100 dias, e dotado de brises de painéis fotovoltaicos; e o Condomínio Alma Maraú (BA), com 30 casas de 90 a 180 m². Está em desenvolvimento um protótipo para um edifício residencial modular, em parceria da Gerdau com a CMC, a Saint Gobain e outras empresas.
Já a construção off-site painelizada caracteriza-se por flexibilidade, adaptabilidade e facilidade de transporte, acoplando painéis feitos fora do canteiro a projetos já em execução, com redução de 20% do prazo, em edificações de até 40 pavimentos. Também há uso de BIM e parafusagem na obra. A especialista de marketing mostrou o case da Urbic, uma construtora focada em edifícios residenciais em São Paulo com essa tecnologia, e utilizando sistemas complementares também industrializados.
Nos debates que se seguiram, Batlouni congratulou a Gerdau por ter abraçado e causa da industrialização, e apontou os desafios a serem superados em termos de custo, frete e cobrança de ICMS. Rosane ainda informou que essa modalidade permite a convivência de padronização e personalização nos projetos. Recomendou que a cadeia produtiva reveja seus projetos e a Norma de Coordenação Modular, e faça as contas levando em consideração os benefícios de longo prazo. Informou que a Gerdau acaba de publicar artigos a respeito, no site da empresa.
Armaduras de qualidade
Em sua palestra, Jorge Nakajima Satoro, gerente de Produção da França & Associados Projetos Estruturais, mostrou patologias que surgem quando há divergências entre o projeto e a execução de armaduras para concretagem.
Ele mostrou casos de cobrimentos não respeitados, quase encostando a armadura na fôrma. Chamou a atenção para a importância de verificação, momentos antes da concretagem, do posicionamento correto e do lado certo dos espaçadores tipo cadeirinha (torre). No espaçador multiapoio (centopeia), devem-se apoiar duas barras sobre o mesmo, preferencialmente sobre os “pezinhos”. Uma solução é colocar totalmente a barra sobre este espaçador, e para não sair do lugar, a sugestão é amarrar a centopeia nas barras.
Satoro também mostrou cuidados para o correto posicionamento de vigas sobre pilares, nos casos em que ambas têm a mesma largura. Para evitar a “flambagem” do vergalhão, devem-se recompor os estribos, com guias e grampos, caso sejam cortados, pois possuem funções estruturais importantes. Para melhorar a armadura longitudinal da viga, os grampos devem passar por dentro dos estribos. Não há necessidade de alternar as dobras dos estribos, mas sempre deixá-los na parte superior da viga.
O engenheiro recomendou a leitura do Manual de Boas Práticas. Também aconselhou o treinamento da equipe de obra e chamou a atenção para a necessidade de se definir um responsável pela verificação da montagem correta da armação no momento da concretagem.
Concreto reforçado com fibras
Marco Antonio Carnio, professor da PUC Campinas e diretor da Evolução Engenharia, palestrou sobre os conceitos, aplicações e normas da ABNT para estruturas de concreto reforçado por fibras. Feitas com aço carbono onduladas ou trefiladas, reforçam o concreto endurecido e em alguns casos substituem as armaduras, dotando o material de capacidade de resistência à tração.
Já as poliméricas ou macrofibras, resistentes a meio alcalino, fibriladas ou monofiladas (“cabelinho de anjo), são aplicadas no concreto fresco para enfrentar o problema da retração. Podem ser utilizadas em pisos, paredes de concreto moldadas no local, radiers e blocos de fundação, elementos pré-moldados, revestimentos de encostas em concreto projetado, tubos de concreto de esgoto ou águas pluviais.
Há também as fibras minerais, de vidro álcali-resistente, carbono e basalto. Em todos os casos, Carnio recomenda exigir, do fabricante, atestado de conformidade do produto com as normas técnicas de produção e ensaios. E sempre buscar as informações corretas sobre os produtos, nas fontes originais.
Matéria publicada no Sinduscon-SP