Em agosto de 2022, a Pesquisa Nacional sobre Digitalização na Arquitetura e Urbanismo revelou que 64% dos profissionais não utiliza nenhum tipo de ferramenta ou metodologia orientada a planejar as atividades no início dos projetos. Além disso, apenas 30,8% dos entrevistados dizem estar familiarizados quando consultados em relação às soluções 4.0, o que inclui inteligência artificial, business intelligence e o próprio BIM.
Por outro lado, 84,5% dos profissionais ouvidos pela pesquisa afirmaram ter uma percepção positiva a respeito do BIM e 77,6% compreendem que a ferramenta terá uma grande importância no mercado.
“Quando um profissional está fazendo o projeto de maneira isolada, isto é, quando faz a sua disciplina sem levar em conta as demais, em geral, é possível desenvolver o projeto seguindo uma intuição, uma metodologia simplificada ou a própria experiência. Não estou levando em conta as interferências que meu projeto pode gerar nas demais disciplinas e vice-versa. O problema é que para fazer um projeto em BIM, esta compatibilização é indispensável. Ainda é baixo o número de profissionais que utiliza esta ferramenta porque ainda é muito baixo o número de profissionais que faz projetos em BIM de maneira coordenada e compatibilizada”, comenta Rodrigo Broering Koerich, presidente do BIM Fórum Brasil.
Na opinião de Koerich, a consequência disso é que quando não se usa esta tecnologia ou quando projetos incompatíveis são realizados, a compatibilização é feita posteriormente. Consequentemente, o retrabalho é muito grande. “As pessoas muitas vezes acabam convivendo com este retrabalho, mas não param para se organizar em equipes multidisciplinares. Quando estas são orientadas por uma determinada metodologia clara de sequenciamento de atividades, isso possibilita que as decisões sejam tomadas à medida que elas são acordadas com as demais disciplinas”, explica Koerich.
Tecnologias 4.0
Com relação à tecnologia, o setor de construção civil é provavelmente o mais atrasado de todos. “O setor ainda encara as tecnologias como algo muito distante. Não se imagina o uso destas tecnologias dentro da construção, dentro do canteiro de obras, mesmo nos projetos. Vamos pensar primeiro nas tecnologias 2.0, que é o uso do CAD. Ele vem sendo utilizado há aproximadamente 25 anos. Até então, os projetos eram feitos em papel. Ainda hoje não é 100% das pessoas que fazem o uso do CAD como tecnologia principal. Ainda tem gente que gosta de fazer a concepção ou algumas etapas do projeto à mão. A adoção da tecnologia é algo que ainda demora. E a tecnologia 4.0 ainda vai levar bastante tempo se não houver políticas, processos ou ações que acelerem o uso dessas ações de maneira integradas”, declara Koerich.
Dificuldades na adoção do BIM
Na Pesquisa Nacional sobre Digitalização na Arquitetura e Urbanismo, foi possível verificar que 56% dos profissionais estão no estágio de adoção inicial do BIM. No entanto, 91,6% deles vêm seus esforços de adoção descontinuados no tempo. A falta de recursos foi apontada como o principal fator que afetam os esforços de adesão, com índice de 71,2%. Ao mesmo tempo, 36% dos profissionais disseram ter desenvolvido experiências de trabalho em BIM.
“As principais dificuldades para fazer esta transformação passam primeiro pela sensibilização. Em primeiro lugar, é preciso que as pessoas compreendam que estas tecnologias trarão grandes ganhos. O segundo passo é a integração destas tecnologias. O primeiro desafio é transpor a barreira de adoção do próprio BIM como uma das tecnologias 4.0. Quando existir a modelagem tridimensional, ou a modelagem de informação da construção, que é o BIM, de maneira mais ampla nas fases de projeto, a tendência é que novas tecnologias que podem ser associadas ao uso do BIM também passem a ser incorporadas. Ainda assim, elas precisariam ser integradas. A maior dificuldade começa pela sensibilização, depois a gente tem uma fase de preparação do mercado, dos projetistas para que eles adotem essas metodologias, mas as principais barreiras estão na mudança do processo de trabalho, para um processo coordenado”, expõe Koerich.
Trata-se, sobretudo, de um processo que demanda a interação entre equipes para obter maior produtividade. “Caso contrário, eu faço meu trabalho em um processo tradicional, sem uma metodologia, tenho muito retrabalho pra fazer isso, e as pessoas acabam abandonando o processo porque esse retrabalho não paga a conta”, alerta Koerich.
Outra ação necessária para a difusão do BIM, segundo Koerich, é a sensibilização dos contratantes de projeto, sejam eles do setor público ou privado.
“Como você sensibiliza uma construtora ou incorporadora a fazer o uso de uma tecnologia que ela não está acostumada? Ao mostrar que ela tem vantagens reais no uso desta tecnologia, como os ganhos na qualidade da construção, diminuição de custos, redução de prazos, dentre outros. A partir do momento em que o mercado começar a contratar ou a exigir que os projetos sejam feitos utilizando o BIM, é natural que os projetistas e demais envolvidos comecem a fazer um uso mais extensivo da tecnologia. Também é necessário preparar essas empresas para contratar o BIM. Senão, eles acabam contratando de forma errada, sem entender como deve ser feito e se frustram e podem ter a impressão de que a ferramenta não traz benefícios”, conclui Koerich.
Matéria publicada no Massa Cinzenta