A digitalização e o pós-pandemia podem ser considerados catalisadores do crescimento global da industrialização da construção civil. Estamos em um ambiente disruptivo, vivenciando constantes transformações, onde as oportunidades nascem das dificuldades, ao mesmo tempo em que se consolida uma nova era no bojo da 4ª Revolução Industrial.
A demanda por mecanização e automação, visando a racionalização efetiva e o incremento da produtividade, deve crescer, uma vez que vivemos no contexto de elevadas necessidades por habitação e infraestrutura, somada à escassez de recursos humanos, hídricos e energéticos e às metas estabelecidas para diminuir o impacto das mudanças climáticas até 2050.
Diante desses desafios, a construção industrializada ou “off-site” produzida em instalações industriais e montada nos canteiros de obras traz no seu DNA os conceitos alinhados com o BIM, a coordenação modular e o uso das modernas ferramentas do universo 4.0.
Nesse sentido, a pré-fabricação em concreto tem sido protagonista em diversas áreas. Mais recentemente superou desafios de alturas cada vez maiores de forma isolada ou combinada com outros sistemas construtivos, como na construção das torres do Parque das Cidades, vencedora da categoria Projeto da 1ª Edição do Prêmio Produtividade, no qual houve o uso intensivo de estruturas pré-moldadas de concreto na sua forma convencional (lajes alveolares, pilares e vigas) na estrutura e painéis na fachada.
Já a construção modular está associada à industrialização da construção civil e ao pré-fabricado. Explorando esse tema, a pré-fabricação em concreto pode ter, dessa maneira, três formas: 2D com painéis, 3D com módulos prontos ou ainda híbrida combinando 2D e 3D, segundo o relatório “Modular Construction: From projects to products”, publicado pela McKinsey em 2019, que ainda cita o potencial de ambos os métodos, sempre com produção “off site” em reduzir os custos totais em 20% e o cronograma em 50%. O estudo prevê ainda que a industrialização da construção civil cresça no mundo. Na América Latina, segundo nossa interpretação, de forma mais lenta do que em outros países, devido ao menor custo da mão de obra, o que ainda tem possibilitado a racionalização dos métodos convencionais de construção com soluções executadas no próprio canteiro.
É importante lembrar que a construção modular em concreto já foi muito utilizada no Brasil, especialmente no setor hoteleiro em São Paulo no início da primeira década dos anos 2000, a fim de acelerar sua expansão. Eram aplicados painéis de fachada e os banheiros prontos. Eles também foram usados em presídios associados a concretos de elevado desempenho devido aos requisitos de segurança.
Após visitas recentes em fábricas na Alemanha, Dinamarca, Finlândia, Bélgica, Holanda, Rússia, Dubai e em feiras internacionais, a percepção é de que há uma tendência no Brasil em ampliar a industrialização em concreto pelo sistema “painelizado”, com uso intensivo de painéis que serão produzidos em fábricas com elevado grau de automação através dos sistemas denominado carrossel. Já existem unidades industriais instaladas em São Paulo, porém deverá haver nos próximos anos uma ampliação. No mundo, a Ásia se destaca no maior uso de módulos prontos, sendo que está em construção o maior edifício com módulos 3D em concreto em Cingapura. Com duas torres residenciais de 56 pavimentos (200 metros de altura), o condomínio Avenue South Residence atenderá a política habitacional do país que prevê o aumento da produtividade em 40%.
A indústria brasileira tem monitorado as tendências internacionais, aperfeiçoado a normalização junto à ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e implementado novas linhas de produção. Além disso, tem estudado o uso de concretos especiais, como o UHPC (Ultra High Performance Concrete), visando melhorar o desempenho dos elementos, tornando-os mais leves, a fim de facilitar a logística; e tem associado o monitoramento e inspeção dimensional ao “laser scan”, integrando o projeto em BIM com os equipamentos de produção na indústria. Por fim, tem implantado sistemas de gestão integrada de qualidade, segurança e meio ambiente auditado e certificado pelo Selo de Excelência Abcic, objetivando ampliar a competitividade e o fornecimento de soluções sustentáveis que possam atender a projetos contemporâneos.
Artigo publicado no portal do Prêmio Produtividade do Mesmo Lado