O Lego pode salvar o mundo? Esta é uma ideia que ficou comigo ao ler “How Big Things Get Done”, o novo livro de Bent Flyvbjerg e Dan Gardner. Flyvbjerg talvez seja a principal autoridade mundial em fracasso de projetos — ou como as coisas grandes são feitas, mas lamentavelmente tarde e a um custo lastimável — e, portanto, ele é um otimista improvável.
Ao longo das décadas, Flyvbjerg, um professor de administração da Universidade de Oxford, montou um banco de dados sobre grandes projetos que vão de linhas de trens de alta velocidade até sediar olimpíadas. Suas constatações são tão desanimadoras que ele propôs a “Lei de Ferro dos Megaprojetos”: repetidas vezes eles ultrapassam os prazos e os orçamentos. E o que é pior: há uma longa sequência desses desapontamentos. Uma minoria significativa de megaprojetos não é apenas atrasada e cara, mas também catastrófica.
Apesar dessa evidência deprimente, ele e Gardner argumentam que poderíamos fazer maravilhas se em vez disso usássemos um princípio mais familiar que vem dos conjuntos de brinquedo Lego. Esse princípio é a modularidade: um modelo Lego complexo é montado a partir de uma série limitada de blocos, cada um dos quais fabricado com precisão e intercambiável com outros blocos.
A modularidade tem uma série de vantagens. A primeira é que os componentes individuais podem ser fabricados em escala, o que reduz rapidamente os custos.
Há outras vantagens em projetos modulares. Eles são mais propensos a usar componentes de fábrica, e quando você faz coisas complexas em fábricas, você fica menos à mercê do inesperado do que quando as faz em um canteiro de obras — especialmente se esse canteiro de obras for subterrâneo ou offshore.
Agora, se nos voltarmos para o problema da mudança climática, um padrão intrigante surge. Os projetos de energia de baixa emissão de carbono incluem alguns dos designs mais modulares e menos modulares no banco de dados de Flyvbjerg. As energias solar e eólica estão na ponta modular, enquanto os projetos nucleares e hidrelétricos estão no polo oposto. Então, talvez não seja uma surpresa que os projetos de energia solar e eólica estejam com seus preços em queda acelerada.
Matéria na íntegra está publicada no Valor Econômico