Em julho de 2024, o Governo Federal anunciou a possibilidade de autorizar a compra de casas modulares pré-fabricadas para as famílias atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. O principal objetivo dessa ação é reduzir o tempo de construção das unidades.
Em entrevista à GloboNews, o ministro das Cidades, Jader Filho, afirmou que o uso de casas modulares pré-fabricadas representa uma oportunidade importante, não apenas para o Rio Grande do Sul, mas também para o programa Minha Casa Minha Vida como um todo.
Diante desta possibilidade, como funciona o uso de casas modulares na prática? Para o professor e doutor Roberto Christ, coordenador do itt Performance DPPGI – Diretoria de Pesquisas, Pós-Graduação e Inovação / itt da Unisinos, há oportunidade para implantação desta solução industrializada como uma das soluções no âmbito habitacional. “Estas construções são geralmente mais leves do que as casas tradicionais, logo, as fundações precisam resistir a cargas menores. A preocupação maior é construir casas em locais fora das áreas de alagamento. Claro que o que aconteceu no Rio Grande do Sul foi uma catástrofe, e se o sistema de proteção contra cheias, diques e casas de bombas não tivesse falhado, muitas casas não teriam sido atingidas”, afirma.
Vale lembrar que toda e qualquer edificação habitacional deve atender a uma série de requisitos de desempenho (como a capacidade de suportar os eventos climáticos previstos), conforme os critérios estabelecidos pela norma NBR 15575. “Independentemente do material utilizado ou da forma construtiva, todas devem atender aos mesmos requisitos. Quando se trata de um sistema construtivo inovador, que não possui normas técnicas nacionais, o sistema deve ser avaliado por uma Instituição Técnica Avaliadora (ITA) credenciada pelo Ministério das Cidades, seguindo as prescrições do regulamento do Sistema Nacional de Avaliações Técnicas de Produtos Inovadores e Sistemas Convencionais (SINAT),” destaca Christ.
Ele destaca o uso de soluções que contemplem o uso de materiais que não sejam tão suscetíveis aos grandes volumes de água, como estruturas em concreto armado e revestimento argamassado ou até mesmo em paredes de concreto. “No entanto, é importante destacar que a construção de edificações em áreas de risco de alagamento é o principal ponto ao qual os representantes públicos devem atentar”, informa o professor.
Desafios para a construção de casas modulares em larga escala
Para a construção industrializada, além de prever uma escala de produção que atenda a redução de prazos de construção e montagem, outros aspectos devem ser levados em consideração na adoção da solução, que passa por critérios de desempenho e análise financeira para a sua implantação.
No entanto, a demanda por construção no estado do Rio Grande do Sul é muito grande. Consequentemente, há o problema da mão de obra, que está se tornando um dos grandes gargalos para as empresas, de acordo com o professor. “Mas, sem dúvida nenhuma, a industrialização da construção civil é uma maneira de reduzir os custos, além de garantir maior qualidade e produtividade na área,” comenta Christ. Ele cita o exemplo de empresas que possuem capacidade de produzir 10 casas de 27 m² por dia no estado do Rio Grande do Sul, utilizando um sistema com placas delgadas de concreto reforçado com fibras de vidro (GRC).
“Entendo que a demanda atual não é por casas modulares, mas sim por casas. As casas modulares têm a vantagem de utilizar materiais com tempo de cura menores, o que permite uma maior produtividade. O mercado da construção civil para casas de interesse social sempre foi grande, e temos um déficit habitacional gigante. A construção modular pode ajudar tanto a diminuir esse déficit quanto a aumentar a produtividade. A construção modular não é aplicável apenas para construções de interesse social, mas para toda e qualquer construção, seja ela residencial, industrial ou comercial. Com a escassez de mão de obra, a industrialização será uma pauta em todas as construtoras a médio e longo prazo,” conclui o professor.
Matéria publicada no Massa Cinzenta