Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Cenário aponta para crescimento moderado da construção neste ano

Embora o PIB da construção tenha se retraído no primeiro trimestre, a atividade do setor deverá seguir crescendo moderadamente ao longo de 2023. Este crescimento se deverá a fatores como algum fôlego da construção imobiliária, o maior volume de investimentos em infraestrutura e a reestruturação do programa Minha Casa, Minha Vida. Este foi o cenário vislumbrado na Reunião de Conjuntura do SindusCon-SP.

Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV/Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), mostrou em sua apresentação que a construção se recuperou expressivamente ao longo da pandemia, mas que este movimento perdeu força a partir do final do ano passado. 

Mesmo com a retração de 0,8% do PIB da construção no primeiro trimestre de 2023, no acumulado de 12 meses persiste o aumento de 5,3%. O que está por trás desta queda é a menor atividade de autoconstrução e reformas, conforme mostram os dados da ocupação e da produção de materiais de construção, explicou.  
Segundo a economista, a atividade da construção formal registra crescimento no primeiro trimestre, especialmente em São Paulo, e mais nos setores de edificações e de serviços especializados. De acordo com Ana Maria, uma maior atividade da infraestrutura poderá contribuir para elevar novamente o consumo de materiais, como o cimento. 

Lançamentos e vendas 
No país, a queda do número de lançamentos de empreendimentos imobiliários seguiu no primeiro trimestre, e das vendas em menor proporção. Já na cidade de São Paulo, os lançamentos diminuíram, mas as vendas se elevaram no primeiro quadrimestre, com ênfase nos imóveis de médio e alto padrão. Os preços dos imóveis novos seguem crescendo acima da inflação, embora haja desaceleração no ritmo deste crescimento, e estejam ocorrendo descontos nesses preços. E a concessão de crédito imobiliário também tem se reduzido. Portanto, segundo Ana Castelo, há uma inflexão no ciclo de negócios que vai se refletir mais adiante, com menor intensidade na cidade de São Paulo.  

Ela também lembrou que o atraso na regulamentação do programa Minha Casa, Minha Vida também contribuiu para a diminuição dos lançamentos, e ponderou que isso agora poderá se reverter com as medidas a serem baixadas nas próximas semanas.  

Na infraestrutura, segundo Ana Castelo, espera-se um aumento dos investimentos em 2023, em sua maioria com recursos da iniciativa privada. O governo também deverá reeditar uma nova versão do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).  

Custos 
Já a Sondagem da Construção da FGV mostrou que há mais preocupação com a demanda insuficiente e com a escassez da mão de obra, e menos com os custos dos materiais. Os valores dos salários, que pressionaram o INCC no ano passado, não terão o mesmo peso neste ano, pela atual metodologia do índice. Já os preços dos serviços terão um peso maior a partir da mudança da metodologia do INCC, programada para julho. A manutenção do crescimento do emprego também poderá pressionar os custos com a mão de obra, independentemente das convenções coletivas que já foram assinados. Em contrapartida, a redução da inflação contribui para arrefecer demandas de alta de salários, analisou Ana Castelo. 

No médio prazo, a escassez de mão de obra qualificada pressionará os salários, completou Zaidan, acrescentando que também aumentou a proporção de empresas de fornecedores de materiais com capacidade de impor preços. Segundo ele, na cidade de São Paulo, está cada vez mais caro construir, em função do custo do terreno e de outros fatores, como planos diretores restritivos. Ao mesmo tempo, a demanda por imóveis segue forte. 

Cenário nacional 
Robson Gonçalves, professor da FGV, afirmou ainda ser cedo para avaliar se será sustentável, ao longo de 2023, o crescimento do PIB do país no primeiro trimestre, que veio acima das expectativas. O mercado de trabalho está em ascensão, porém com baixa qualidade, sem crescimento da renda, o que não anima o crescimento do consumo das famílias.   

Gonçalves também questionou se a queda da inflação persistirá, em função de fatores como a antecipação da reoneração tributária dos combustíveis. Ao mesmo tempo, fatores como a queda dos preços das matérias primas podem colaborar para o arrefecimento da inflação.  

Em um cenário otimista, prosseguiu, os juros poderiam cair ainda neste ano, caso o BC vislumbre que a inflação deverá se aproximar da taxa de 3% em 2024. Ele ainda anteviu que a taxa de câmbio permanecerá abaixo de R$ 5.  

Em outra frente, a reforma tributária está andando no Congresso. Para o professor, a sinalização é positiva, mas a proposta de que o Fundo de Desenvolvimento Regional a ser criado fique fora do arcabouço fiscal é péssima. 

Matéria publicada no Sinduscon-SP

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