Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Como a inteligência artificial está influenciando a construção civil?

A escassez de mão de obra é um dos principais problemas enfrentados na construção civil atualmente. Durante o evento “Quintas da CBIC”, Eduardo Aroeira, vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), apontou que uma das grandes preocupações na construção civil é a falta e a baixa qualidade de mão de obra. Seria o investimento em tecnologia artificial uma forma de contornar esta escassez?

Para Guilherme Bechara, gerente de soluções em engenharia da Construtora Barbosa Mello, a tecnologia permite preencher essa lacuna de formação de pessoas e falta de interesse. “Em áreas específicas, podemos substituir com a inteligência das máquinas ou da tecnologia que temos disponível. Temos muita dificuldade de encontrar auxiliares, e estamos conseguindo com esse uso de tecnologia, substituir essa mão de obra menos qualificada”, comentou Bechara durante o “Quintas da CBIC”. 

Veja abaixo como a inteligência artificial irá impactar em diferentes frentes:

Inteligência artificial na arquitetura

De acordo com Alexandre Kuhn, arquiteto, CEO e cofundador da Redraw, a inovação na arquitetura já é aplicada há muitos anos. “Esse é o caso de sistemas como Grasshopper e Rhino, que há cinco anos, utilizam algoritmos para definir parâmetros de projetos e gerar soluções arquitetônicas. O que acontece agora é que a IA está acelerando esse processo, integrando cada vez mais funções que, antes, eram exclusivas dos arquitetos. E o que resta para esse profissional? Penso que o contato humano sempre vai existir. Os clientes nunca deixarão de optar por conversar com um profissional, porque isso é o que lhes traz confiança e os afasta dos receios da IA. Mas o arquiteto, ao mesmo tempo, não pode ficar para trás. Ele precisa se reinventar e estudar a tecnologia para saber aplicá-la em seu dia a dia”, comenta Kuhn.

Inteligência artificial na construção civil

Diego Barreto, vice-presidente de Finanças e Estratégia do iFood, e Sandor Caetano, Chief Executive Officer do PicPay, escreveram o livro “”O Cientista e o Executivo – Como o iFood utilizou a inteligência artificial para redefinir processos, criar vantagem competitiva e se tornar um case mundial de sucesso“. Na obra, eles avaliam o uso de inteligência artificial em vários setores. 

Para os autores, na construção civil, setor que historicamente dependente de muitos processos manuais, a IA impulsiona a inovação. A capacidade de gerar projetos arquitetônicos rapidamente, considerando inúmeros cenários, revoluciona a concepção e a execução de planos. A IA viabiliza a escolha eficiente de soluções, promovendo eficiência construtiva e redução de custos.

“A IA pode ser aplicada para otimizar sistemas complexos. Na construção, tecnologias semelhantes podem melhorar o uso de recursos, a logística de materiais e a gestão de resíduos, e ainda redefinem o design arquitetônico por meio de simulações que levam em conta fatores climáticos, estruturais e de uso do espaço”, enfatiza Diego Barreto.

Para Wanderson Leite, fundador do EuConstruindo.com e da Prospecta Obras, há muitas formas de aplicar a IA na rotina deste setor, indo desde a captação de dados em tempo real da construção dos canteiros no território, até no apoio em cenários de risco, monitoramento, e muitas outras funcionalidades que permitem uma maior otimização e segurança aos profissionais do segmento. 

“Considerando, especificamente, a melhora da experiência do consumidor no ramo, um dos maiores usos desta ferramenta está no aspecto financeiro envolvido nas obras. Até hoje, é muito comum observar enormes dificuldades destes clientes em realizar suas construções com o melhor custo-benefício. Infelizmente, se tornou “normal” ter más experiências em encontrar boas lojas com orçamentos adequados e dentro do prazo estipulado, o que desencadeia um enorme efeito dominó prejudicial ao andamento do projeto. Mesmo sendo uma situação muito usual atualmente, o investimento da IA pode ajudar a reverter essa realidade com excelentes resultados. Uma de suas maiores contribuições está, justamente, em servir como uma ponte entre quem precisa construir e quem vende os insumos necessários para isso – estreitando o relacionamento entre as partes e tornando o planejamento da obra muito mais eficiente através da captura de dados em tempo real sobre as empresas do setor. Na prática, com a ajuda desta tecnologia, ela conseguirá solicitar as demandas dos consumidores em seus projetos e enviá-los às empresas do setor, de forma que elas mesmas entrem em contato com seu público-alvo oferecendo seus orçamentos para facilitar a compra dos materiais necessários”, comenta Leite.

Inteligência artificial em equipamentos

Durante o evento “Quintas da CBIC”, Guilherme Bechara, gerente de soluções de engenharia da Construtora Barbosa Mello (CBM), comentou a respeito do uso de inteligência artificial em equipamentos não tripulados. 

De acordo com Bechara, esta automação tem trazido bons resultados para a empresa. “Ninguém no mundo levantou mais material com equipamentos não tripulados do que a CBM. Em 2023, batemos o recorde com 3 milhões de m3 de materiais escavados”, conta. No caso, a escavadeira 3D, que possui cockpit externo que permite que ela seja operada remotamente trouxe um salto de mais de 20% na produtividade da empresa no exercício de escavação e movimentação de solo. 

Neste mesmo evento, Higor Reis, executivo de negócios da SODEP Sistemas, contou sobre o trabalho desenvolvido com hardwares embarcados nos equipamentos, que transferem dados e informações para um servidor local ou na nuvem.

“Todos esses dados vão para central de monitoramento, que compila os dados com IA e gera relatórios. No nosso caso, a IA vem tomando certas responsabilidades e decisões mais efetivas a partir dos inputs e do histórico de produção baseado no cenário dos equipamentos para gerenciá-los dentro do despacho. Estamos tirando essa decisão do ser humano para que a máquina indique onde é a melhor alocação dos equipamentos, a forma mais fácil de produzir e o cenário onde vou conseguir atingir capacidade de produção”, explica.

Matéria publicada no Massa Cinzenta

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