O aumento persistente nos preços dos insumos da construção tem sido ponto de preocupação e de constante debate entre especialistas do setor. Diante do cenário econômico desafiador, o painel “Comportamento atual e futuro dos preços de materiais” fez parte da programação do 94º Enic | Engenharia & Negócios, realizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), nesta terça-feira (21), de forma online.
Mediado pelo jornalista e sócio-fundador da Agência INFRA, Dimmi Amora, os palestrantes apontaram que o custo da construção foi diretamente impactado pelo contexto da pandemia e, agora, pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Os painelistas reforçaram que os acontecimentos recentes impactaram naturalmente todo cenário mundial e, apesar dos esforços realizados no Brasil, os valores dos materiais permanecem altos.
“Considerando esses aumentos dos custos de materiais e os preços ao consumidor, o desequilíbrio de contratos foi perceptível. Em um cenário antes imprevisível, forçou uma movimentação para encontrar uma solução junto ao governo”, disse o jornalista, ao reforçar a busca do setor por medidas de incentivo no poder público.
Na indústria da construção há resultados positivos, como o crescimento da atividade e a geração de emprego no setor. No entanto, o cenário desperta preocupação, segundo a economista da CBIC, Ieda Vasconcelos, pela dificuldade de manter o ritmo de obras, principalmente pelo forte incremento de custos e as dificuldades de reequilíbrio de contrato. “A mão de obra vem exercendo pressão acima do esperado. O custo com materiais não arrefeceu. O que estamos assistindo é um espalhamento do aumento do custo da construção”, disse.
De acordo com a economista, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), registrou, em maio deste ano, aumento de 2,28%, a maior variação mensal do indicador desde maio de 2011. “Estamos assistindo no setor da construção, de junho de 2020 a maio de 2022, um aumento geral do índice”, destacou.
Contudo, apesar do atual cenário, o head de research da Guide Investimentos, Fernando Siqueira, acredita que haverá um arrefecimento da inflação nos próximos 12 meses. “O problema inflacionário é global, não local e foi exacerbado no Brasil por conta do câmbio mais depreciado. Mas tanto os fatores globais quanto locais, olhando nos próximos seis, doze meses, vão ser muito menos intensos do que foram no ano passado”, destacou.
Renato Rostás, da Price Reporter Fastmarkets, complementou destacando que o momento de inflação elevada em todo o mundo já está diminuindo. “No mercado internacional, a cadeia de suprimentos já é uma questão um pouco resolvida e os preços de commodities já estão incorporadas. E no Brasil, a anormalidade percebida em 2021 em relação ao Real não existe mais, ajudando a conter um pouco o problema inflacionário”, explicou.
Segundo Rostás, os materiais que mais registraram aumentos foram o vergalhão de aço, cobre e alumínio. “O vergalhão, considerado uma oferta muito restrita no mercado brasileiro, elevou os preços a patamares históricos”, afirmou.
Ieda complementou destacando a dificuldade inicial encontrada no processo de importação do aço e o reflexo no segmento. Para a economista, durante a pandemia o setor percebeu que a importação poderia facilitar a atividade, conseguindo preços mais competitivos. “O setor sempre se vangloriou por ser pouco importador, mas na pandemia vimos que isso não é uma vantagem. Isso dificultou muito as suas atividades. Precisamos destravar os canais de importação para ter para onde recorrer”, afirmou.
Matéria publicada na Agência CBIC