Pela primeira vez um relatório da Intergovernmental Panel Climate Change (IPCC), que no Brasil é conhecido como Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, reconhece que a absorção de CO2 pelo concreto compensa parte da emissão que ocorre durante a produção de Cimento Portland. Segundo o documento do organismo vinculado à ONU, divulgado dia 9 de agosto de 2021, pelo menos metade do gás carbônico emitido na fase de fabricação do cimento é reabsorvida pelo concreto através de um processo natural chamado de carbonatação mineral.
Para Richard Leese, diretor de política industrial, energia e mudanças climáticas da Mineral Products Association (Associação de Produtos Minerais) – organismo que representa a indústria de cimento do Reino Unido -, o reconhecimento do IPCC muda a chave da história quanto ao real volume de emissão de CO2 atribuído à fabricação de cimento. “Essa contabilidade internacional terá que ser revista”, diz.
Também ouvida sobre o resultado do relatório do IPCC, a engenheira estrutural Jenny Burridge, que atua no The Concrete Centre – centro de inovações em concreto, localizado em Londres -, fez a seguinte constatação: “O concreto absorve CO2, e isso é um fato. Mas diferentes tipos de concreto absorvem CO2 em taxas diferentes. O concreto armado tem baixo potencial de carbonatação, pois se ele absorver muito CO2 isso pode levar à corrosão das armaduras”, alerta.
No entanto, continua a engenheira, os blocos de concreto são muito eficazes na absorção de CO2. “Os blocos realmente carbonatam muito rapidamente”, diz. O concreto de demolições, que são transformados em agregados, também possuem grande capacidade de carbonatação, completa Jenny Burridge. “Quanto mais triturado estiver o concreto, maior a capacidade de absorver CO2”, complementa.
No Brasil, a indústria de cimento lança 11% menos CO2 na atmosfera que os números globais do setor
O trecho do relatório do IPCC que aborda que o concreto é um sumidouro de carbonatação do cimento está na página 32 do capítulo 5 do relatório, e diz: “As emissões diretas de carbonatos na produção de cimento estão em torno de 4% do total de emissões de CO2 fóssil. Houve crescimento de 5,8% na década de 2000 e chegou a cair para 2,4% na década de 2010, mas estabilizou. No entanto, constata-se que há absorção de CO2 pelas infraestruturas de concreto (carbonatação mineral) o que compensa cerca de metade das emissões de carbonato durante as fases de produção de cimento. Esses resultados são robustos”, conclui a análise.
No Brasil, a indústria de cimento lança 11% menos CO2 na atmosfera que os números globais do setor. “Enquanto a média mundial de emissão específica encontra-se em cerca de 634 quilos de CO2 por tonelada de cimento, no Brasil esse valor é de 564 quilos por tonelada de cimento”, demonstram dados recentemente divulgados pelo SNIC (Sindicato Nacional da Indústria do Cimento). A meta para 2050 é reduzir para 424 quilos por tonelada. Ainda de acordo com dados do SNIC, desde 1990, quando começaram a ser contabilizadas as emissões da indústria de cimento, o volume médio de CO2 lançado na atmosfera apresenta quedas progressivas.
Matéria publicada no Massa Cinzenta