Em 2021, os sinais positivos da construção são indiscutíveis. A questão é a possibilidade de sustentação do movimento de melhora e a perspectiva de consolidação de novo ciclo de crescimento setorial, considerando agora o contexto de custos mais altos e elevação dos juros.
Em 2020, as sinalizações bastantes distintas dos indicadores de atividade do setor da construção mostraram a dificuldade de se avaliar o desempenho setorial. A queda do PIB da construção de 7% refletiu o maior impacto da pandemia no mercado informal. Por outro lado, o emprego com carteira mostrou que, apesar de ter sofrido de forma intensa nos primeiros meses, o setor conseguiu retomar suas atividades.
É fato que a inclusão da construção como atividade essencial contribuiu de maneira expressiva para a recuperação a partir dos impactos iniciais da pandemia. Tanto o varejo de materiais quanto construtoras e incorporadoras puderam, obedecendo aos devidos protocolos sanitários, operar em grande parte das cidades do país.
Outros pontos de destaque no ano e que foram favoráveis ao setor da construção: o auxílio emergencial; a redução das taxas de juros dos financiamentos habitacionais, em um contexto de expansão do crédito; e as eleições municipais.
Em resumo, em 2020 o comércio de materiais de construção bateu recordes de vendas. O mercado imobiliário, mesmo com estandes fechados, registrou crescimento dos negócios, as obras foram retomadas e o ciclo de crescimento voltou a ganhar impulso. Como a construção tem ciclos produtivos longos, os negócios realizados deveriam se traduzir em obras, renda e emprego nos meses seguintes, especialmente em 2021.
Ainda em 2020, alguns sinais de alerta já apareceram. Depois de alcançar o pico em outubro, o Indicador de Confiança da Construção não conseguiu sustentar a melhora. A escassez de insumos e, principalmente, a alta dos custos surgiram como grandes ameaças. Em outubro, no quesito que investiga as limitações à melhoria dos negócios da Sondagem da Construção, o item Custo da Matéria-Prima alcançou recorde histórico da pesquisa.
Assim, a despeito dos sinais de recuperação, o ano de 2021 começou com o aumento das incertezas em relação à evolução da pandemia, à escassez e ao aumento dos custos das matérias-primas. A segunda onda da pandemia atingiu o comércio de materiais, que em São Paulo, dessa vez, precisou fechar as portas. O auxílio emergencial foi reduzido e tornou-se menos abrangente.
Com o cenário mais adverso, a demanda por materiais teve um pequeno recuo, mas segue relativamente forte em 2021. O volume de vendas no comércio varejista (IBGE) registra no ano até junho alta de 21,5%. Com a base de comparação mais elevada do segundo semestre de 2020, as taxas devem se reduzir nos próximos meses e alcançar o final do ano com crescimento de 6,2%.
O aquecimento da demanda por materiais também pode ser conferido por meio das vendas de cimento para o mercado interno, que tiveram no primeiro semestre elevação de 15,8% na comparação com o primeiro semestre de 2020. A estimativa do SNIC é de que o crescimento das vendas também encerre o ano com variação de 6%.
Cimento: vendas acumuladas em 12 meses para o mercado interno*
Em mil toneladas
* Dados preliminares
Fonte: SNIC
Em 2020, houve claro descompasso entre a oferta e a demanda de materiais, o que contribuiu para a escassez e a elevação dos preços. A partir do segundo semestre, a produção industrial retomou as atividades de forma mais intensa, diminuindo o descompasso. No primeiro semestre de 2021, a produção de insumos típicos (IBGE) alcançou expansão de 25,2%. Vale notar que, depois de alcançar um pico em dezembro, a produção avançou pouco, mas com o efeito carregamento elevado, o ano deve fechar com aumento superior a 8%. É importante destacar que os estoques permanecem baixos e ainda há indicações por parte das construtoras e do comércio varejista de dificuldades de abastecimento de alguns materiais.
Matéria publicada no Blog do IBRE/FGV