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ConstruCarta Conjuntura: Contrastes marcam o resultado do PIB do primeiro trimestre

Dados divulgados pelo IBGE superaram as expectativas e projeções relativas ao crescimento do PIB no primeiro trimestre. Na comparação dessazonalizada com o trimestre anterior, a expansão foi de 1,9%. A projeção do Monitor do PIB do FGV IBRE era de 1,6%. Esse resultado reverte a queda de 0,1% registrada no último trimestre de 2022 na mesma base de comparação. Na comparação com igual período do ano passado, a expansão foi ainda mais destacada: 4%. Com isso, o crescimento acumulado nos quatro trimestres encerrados em março passado chegou a 3,3%.

Voltando para o comparativo dessazonalizado com o último trimestre de 2022, o grande destaque ficou por conta da agropecuária, beneficiada por volumes recordes de produção e preços internacionais favoráveis. O crescimento nessa perspectiva foi de impressionantes 21,6%. Já o setor de serviços, que detém a maior participação no PIB total, a variação foi de 0,6%. O contraste com esses bons resultados ficou por conta da indústria, que apresentou recuo de 0,1%. E, dentre os segmentos industriais, a indústria de transformação teve queda de 0,6% acompanhada da construção (-0,8%). O resultado da indústria como um todo só não foi pior devido ao bom desempenho da extração mineral, que teve alta de 2,3%, sempre na comparação dessazonalizada com o trimestre anterior.

No caso da construção, o recuo foi o segundo consecutivo e reflete, em grande medida, o encolhimento das obras realizadas pelas famílias por autoconstrução ou por meio de pequenos empreiteiros. Os números do emprego do Caged continuam sinalizando os efeitos do ciclo de negócios do mercado imobiliário, assim como os investimentos da infraestrutura. No entanto, essa atividade não tem sido suficiente para se contrapor a redução das obras e reformas realizadas pelas famílias. À médio prazo, é possível que isso se reverta. Em 12 meses, o setor registra expansão de 5,3%.

Ainda sob a ótica da demanda, o consumo das famílias teve avanço de 0,2% em linha com o bom desempenho dos serviços, enquanto os gastos correntes do governo tiveram alta de 0,3%. Nessa ótica, o contraste ficou por conta do investimento (formação bruta de capital) que teve recuo de 3,4%. No que se refere ao setor externo, as exportações tiveram variação negativa de 0,4% e as importações caíram 7,1% em relação ao quarto trimestre de 2022.

O perfil do crescimento registrado no período janeiro-março sugere várias mensagens. Em primeiro lugar, o desempenho exuberante do agro é típico do setor, cujas taxas de variação na série trimestral dessazonalizada são as mais voláteis. Portanto, mesmo considerando que a participação da agropecuária é a menor dos três macrossetores que compõem o PIB, não se pode esperar taxas tão expressivas de crescimento ao longo do ano. Em paralelo, os números da indústria seguem preocupantes e sugerem que o setor ainda não encontrou uma trajetória firme de expansão. Por fim, o contínuo crescimento do setor de serviços, bastante disseminado nos números do primeiro trimestre, indicam que o movimento de descompressão pós-pandemia está tendo uma duração maior do que o esperado e ainda pode surpreender favoravelmente nos próximos trimestres. www.sindusconsp.com.br

Outro dado de interesse se refere ao comércio. Na comparação com o trimestre anterior, esse segmento registrou crescimento dessazonalizado de 0,3%, ligeiramente acima do consumo das famílias (0,2%). Tendo em vista o comportamento cadente da inflação e a possibilidade de início do ciclo de queda dos juros ainda neste ano, seria possível esperar que o comércio também possa contribuir com o crescimento até o final de 2023.

Frente a esses números e tendências, espera-se que o processo já em curso de revisão das expectativas de crescimento para o ano continue aproximando-se de 1,5%.

Matéria publicada no Sinduscon-SP

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