A taxa de câmbio é uma das variáveis mais sensíveis do ambiente econômico, tanto a curto quanto a longo prazo. Fluxos de mercadorias e de capitais influenciam e são influenciados por ela e, em um mundo no qual a tecnologia acelerou as operações financeiras de curto prazo, as moedas têm “dançado” de forma frenética – ainda que o ritmo no caso das principais divisas seja mais lento do que se observa nas economias menos desenvolvidas.
No caso brasileiro, durante o ciclo de alta de preços das commodities que ocorreu juntamente com o forte crescimento da China, mais ou menos entre 2003 e 2008, o real chegou a se valorizar 40% considerando as médias anuais, com o dólar sendo cotado a R$ 1,60 em julho daquele último ano. Mas a crise imobiliária nos EUA e os episódios de tensão política no Brasil inauguraram uma era de instabilidade e de tendência de desvalorização de nossa moeda a longo prazo agravado pela pandemia. Desde então, a instabilidade tem sido uma constante.
Neste mês de julho, depois de o Federal Reserve ter decidido fazer uma parada técnica no ciclo de alta de juros nos EUA, o dólar voltou a flutuar fortemente no Brasil. Primeiro no sentido da valorização do real e, em seguida, com episódios de altas e baixas que se alternavam em questão de dias.
Parte da instabilidade recente se deve ao comportamento da inflação, tanto no Brasil quanto nos EUA. O antídoto utilizado pelos Bancos Centrais para controlar a alta de preços é a taxa de juros básica. Enquanto esta permanecia bem mais alta no Brasil e com tendência à estabilidade nos EUA e Europa, os fluxos de capital de curto prazo passaram a migrar para mercados como o nosso, garantindo boa oferta de moeda estrangeira e a tendência de queda em suas cotações por aqui.
Mas os níveis de incerteza e tensão nos mercados permanecem elevados. Há uma guerra na Europa, a China não está deixando claro qual sua tendência de crescimento e o cenário eleitoral nos EUA está cada vez mais incerto. Por conta disso, bastou a divulgação de expectativas de inflação em alta no EUA para que muitos investidores começassem a ver no radar uma tendência de novas altas de juros e começassem a se reposicionar, comprando moeda estrangeira no Brasil para repatriar capitais. Poucas horas depois, as expectativas se reverteram, o sinal de alerta sobre os juros nos EUA se apagou e o real voltou a se valorizar frente ao dólar.
A novidade do período recente é que… não há novidade alguma. Grandes níveis de incerteza somados a capitais que entram e saem com grande velocidade e em grande volume só podem resultar em instabilidade cambial. Mas, o que faz o Banco Central do Brasil?
No atual regime cambial em nosso país, o Bacen só intervém quando há uma virada muito forte no câmbio, capaz de gerar lucros e prejuízos de forma aleatório para os agentes que têm contas a pagar ou a receber em moeda estrangeira. Se o câmbio desliza de forma mais ou menos suave, seja na alta ou na baixa, “marolas” de curto prazo são aceitas pelo Bacen como parte das regras do jogo. E, nesse contexto, o ambiente político polarizado no Brasil se coloca como mais um elemento de instabilidade. Ainda que o avanço da pauta econômica no Congresso coloque no horizonte um cenário mais tranquilo, esse fato aponta mais para uma tendência de médio prazo do que para uma estabilidade no dia a dia cambial.
Em resumo: enquanto persistirem tantos elementos de incerteza e os fluxos de capital externo continuarem cruzando o ciberespaço com velocidade, a dança das moedas vai persistir. Ainda que o ritmo nos países menos desenvolvidos seja mais “animado”, como sempre.
Matéria publicada no Sinduscon-SP