Contrariando a maior parte das expectativas de mercado, o PIB brasileiro apresentou ligeira queda no segundo trimestre, recuando 0,1% frente ao período anterior já com ajuste sazonal. Esse resultado interrompeu a sequência de três altas registradas desde julho do ano passado e coloca o indicador na rota da estabilidade após a recuperação em “V” registrada na sequência do tombo causado pela pandemia. Como já tinham alertado diversos analistas, a trajetória da atividade econômica está assumindo a forma de uma “raiz quadrada”, com um platô de estabilidade após o mergulho registrado em 2020.
Frente a igual trimestre de 2020, o PIB avançou 12,4%. No primeiro semestre, a alta acumulada foi de 6,4%. Em ambos os comparativos, o resultado foi bastante influenciado pela baixa base de comparação do ano passado.
De volta ao confronto dessazonalizado com o trimestre anterior, os resultados de março a junho mostraram grande dispersão entre os três grandes setores da economia. A maior queda ocorreu na agropecuária (-2,8%), seguida pela indústria (-0,2%). No sentido oposto, os serviços cresceram 0,7%.
Entre as atividades industriais, a grande queda ocorreu na indústria de transformação (2,2%). No outro extremo, registraram altas relevantes a indústria extrativa (5,3%) e a construção civil (2,7%). Nos serviços, o destaque foram as atividades de informação e comunicação, com alta de 5,6%. Altas menores foram observadas no comércio (0,5%) e nas atividades imobiliárias (0,4%).
Pela ótica da despesa, a formação bruta de capital fixo teve queda expressiva (3,6%). Os gastos das famílias apresentaram estabilidade, enquanto o consumo do governo avançou 0,7%. No comércio exterior, as exportações cresceram 9,4% e as importações recuaram 0,6%.
Em termos de perspectivas, a grande mensagem desses resultados do segundo trimestre se refere à capacidade do setor de serviços de passar a liderar o crescimento. Em boa medida, o resultado ligeiramente negativo do PIB como um todo se deve ao desempenho pior do que o esperado de diversos segmentos de serviços. Apesar do avanço da vacinação, a reabertura dessas atividades não foi capaz de compensar a falta de dinamismo da indústria nem as perdas causadas pelo clima à agropecuária.
É bem verdade que o ritmo da imunização ganhou fôlego nos meses recentes. Porém, as projeções para 2022, que já vinham em um patamar cada vez mais baixo, devem se situar agora em menos de 2%, confirmando que estamos sob o “signo da raiz quadrada” em termos de atividade econômica projetada para o pós-pandemia.
Matéria publicada no Sinduscon-SP