Estimativa do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) apontou que, em maio, o PIB brasileiro teve queda de 3% na comparação com abril, já com ajuste sazonal. A taxa negativa reflete em parte o fim do efeito da supersafra – agropecuária teve retração de 17,9% nessa mesma comparação -, mas também o enfraquecimento do consumo das famílias que sofrem com alto endividamento e as altas taxas de juros.
A indústria de transformação e a construção tiveram resultados positivos, de 1,2% e 0,1%, respectivamente, em relação a abril. O crescimento do PIB da construção, que finalizou 2022 com taxa de 6,9%, apresenta em 12 meses até maio alta de 3,9%.
A estimativa não identifica a contribuição da produção das empresas e das famílias para o resultado de quase estabilidade da construção, mas outros indicadores dão pistas importantes.
Pelo lado das famílias, o volume de vendas do comércio varejista de materiais acumula até maio retração de 3,8%. Ou seja, após a onda de reformas do período 20-21, o orçamento doméstico pressionado por inflação e crédito caro foi direcionado para outras despesas.
O mercado de trabalho traz os efeitos do aquecimento da produção formal do setor da construção. De acordo com o Caged, a construção respondeu pelo segundo maior saldo líquido dos empregos com carteira, nesses primeiros cinco meses de 2023, ficando atrás apenas do setor de serviços. Dessa forma, apesar de representar pouco mais de 5% do estoque de empregos formais, a construção respondeu por 18% do saldo líquido do período janeiro-maio.
O boom imobiliário dos anos 2020 a 2021 continua repercutindo na atividade, o que vem fazendo dos segmentos de Edificações e Serviços Especializados, os principais geradores de novos empregos no setor. No entanto, nesses primeiros cinco meses do ano, a infraestrutura começa a ter um papel de destaque, respondendo por 33% do saldo no ano. Em taxas acumuladas até maio, o emprego na construção registra aumento de 7,6% em relação a 2022. Em São Paulo, a alta no ano alcança 8,4%.
A queda nas vendas de novos imóveis vai se refletir em algum momento no mercado de trabalho, mas pode ser mitigada pelo aumento dos investimentos na infraestrutura. O aumento das contratações do reeditado Minha Casa, Minha Vida também pode vir a ter uma contribuição importante para a atividade setorial.
Nesse cenário, a projeção de crescimento do FGV Ibre para o setor é de crescimento de 1,3% em 2023, tendo a produção formal como protagonista. Vale notar que a previsão para o PIB do país, de 1,6%, é inferior à média do mercado (2,24%), conforme apontado pelo boletim Focus do Bacen de 14 de julho.
De todo modo, a Sondagem da Construção da FGV captou que, no geral, as empresas da construção se mostram mais pessimistas com a situação corrente dos seus negócios: em junho o pessimismo do setor foi superior à média dos demais segmentos empresariais pesquisados. O corte da taxa Selic já a partir de agosto e uma maior celeridade nas contratações pode representar uma retomada do ciclo de negócios e contribuir para melhorar os ânimos dos empresários nos próximos meses. No mercado de Edificações, as expectativas já reagiram positivamente e tiveram forte melhora em junho.
Matéria publicada no Sinduscon-SP