A importância da industrialização para o setor da construção civil, em especial para a cadeia construtiva do concreto, foi um dos destaques do segundo dia de Concrete Show Xperience 2021, o principal evento digital do país para este segmento. Quem falou mais sobre o assunto foi a presidente executiva da Associação Brasileira da Construção Industrializada em Concreto (ABCIC), Íria Doniak.
Segundo ela, a industrialização nada mais é do que a construção off-site, ou seja, a fabricação de materiais pré-moldados de concreto na indústria, com posterior montagem no canteiro de obras, algo que vem ganhando força no país. “As estruturas de pré-fabricados de concreto têm se consolidado cada vez mais no Brasil e vemos cada vez mais exemplos de sua aplicação, como o novo terminal do aeroporto de Brasília e a estação Osório, do metrô do Rio de Janeiro. Também há exemplos de aplicações em ferrovias, rodovias, arenas esportivas, obras verticalizadas, fachadas, entre muitos outros”, disse. Mas, para ela, ainda há um mercado, em especial, em que este segmento pode e deve crescer daqui em diante: o habitacional.
O diretor da BPM Pré-Moldados, Nivaldo Richter, concordou. “Quando vimos esta alta demanda por soluções industrializadas de construção, adaptadas ao setor residencial, enxergamos uma excelente oportunidade de mercado e desenvolvemos uma solução que trouxe muito mais velocidade ao processo, proporcionando uma ausência total de resíduos e menor exigência de mão de obra. Isso nos mostrou que é possível produzir em grande escala para atender a esse déficit habitacional que existe no país, o que tem 'casado' muito bem com as construtoras, que sofrem com a falta de mão de obra especializada”.
Quem também ressaltou a maior velocidade e produtividade deste sistema construtivo foi o diretor de operações da Sudeste Pré-Fabricados, Ronaldo Franco. “Uma das principais diferenças deste modelo para o convencional é a capacidade de produção que, no sistema de pré-fabricados é muito maior. Em apenas um turno de nossa fábrica, por exemplo, conseguimos produzir o equivalente a cinco ou seis casas de 60 m². Em um case recente, fabricamos 60 casas em somente um mês. Em outro comparativo, podemos dizer que, utilizando este modelo, somos capazes de construir prédios de três pavimentos em apenas alguns dias”.
O diretor executivo da Construtora Tenda, André Luiz Monteiro, vai na mesma linha de pensamento. “Com base nas experiências que viemos realizando nos últimos doze anos, vimos que conseguimos colocar este modelo construtivo de painéis modulares em prática com sucesso, com muito mais facilidade e amplitude. Neste período, construímos aproximadamente 15 mil unidades habitacionais neste sistema, de forma muito mais segura, econômica e ágil, além de proporcionar a redução da mão de obra no canteiro. Agora, estamos estudando a implantação de novos projetos com pré-moldados, já que este é um modelo que se encaixa muito bem dentro da matriz de construção habitacional popular”.
Já o sócio-diretor da Pedreira Ônix, Augusto Pedreira, acrescentou: “Estamos muito próximos de ter o modelo de pré-fabricação realmente implantado no âmbito das moradias, visto a crescente busca do mercado por este tipo de sistema construtivo. Falta pouco, mas isso pode se tornar um grande problema se não quebrarmos as barreiras burocráticas do país. É hora de darmos esse passo”.
O presidente da Associação Nacional de Tecnologia e do Ambiente Construído (ANTAC), Sérgio Scheer, corroborou. “Há alguns fatores burocráticos que, realmente, precisam ser revistos para a plena disseminação deste conceito no país, como a parte tributária e fiscal deste segmento, e os processos licitatórios que o envolvem, que ainda são entraves no Brasil. Há também alguns mitos que precisam ser derrubados, como o argumento de algumas pessoas que dizem que a automatização, caminho natural para soluções industrializadas, gerará perda de emprego no setor. Pelo contrário, os profissionais serão treinados para lidar com os novos sistemas e realocados quando necessário. A construção modular, inclusive, traz mais controle e qualidade aos processos fabris, além de deixá-los mais eficientes e produtivos”, concluiu.
Matéria publicada no Concrete Show