Engenharia de valor, Lean Construction e construção sustentável são ferramentas relevantes para o enfrentamento dos aumentos de custos da construção. Esta foi a mensagem transmitida pelo 8º Encontro de Construtores e Incorporadores, realizado pelo SindusCon-SP e pelo Seconci-SP.
Ao abrir o evento, Yorki Estefan, vice-presidente de Relações Institucionais do SindusCon-SP, destacou que o setor da construção enfrentou os desafios de trabalhar na pandemia, de ver os custos das commodities se elevarem, e agora o de enfrentar os aumentos de custos muito acima da variação do INCC. “Felizmente o setor tem gente muito criativa e este evento é mais uma oportunidade para a superação deste desafio”.
Carlos Borges, vice-presidente de Tecnologia e Sustentabilidade do Secovi-SP, salientou a importância do encontro para gerar reflexão sobre os caminhos destinados a superar o cenário atual. Ely Wertheim, CEO do Secovi-SP, acrescentou que o evento contribui para apoiar as empresas em busca de margem que garanta a sobrevivência delas na atual conjuntura.
Milton Bigucci, que representa o Secovi-SP no CTQ (Comitê de Tecnologia e Qualidade) do SindusCon-SP, moderou os debates. Ele relatou que as entidades têm trabalhado bastante pela diminuição da tributação sobre produtos como aço e cimento. Entretanto, como os efeitos dessa medida são reduzidos, as entidades também estão focadas em redução dos custos dos projetos e em melhoria da produtividade.
Engenharia de valor
Juliana Dias Ikejiri, da R. Yazbek, discorreu sobre engenharia de valor, uma metodologia para o desenvolvimento do projeto, visando a melhor relação entre a necessidade do cliente e o custo do produto. Segundo ela, no mercado imobiliário, a previsibilidade existente até certo ponto para o desenvolvimento dos produtos não acontece mais, pois há inovações, o comportamento do consumidor mudou e os custos aumentaram.
“Daí a importância de uma interação entre projetistas, incorporadora e construtora desde o início do desenvolvimento de produtos que caibam no custo.” Para exemplificar, Juliana apresentou um case de mudanças feitas no projeto de um empreendimento de alto padrão de sua empresa, visando a torná-lo mercadologicamente viável, sem perda da atratividade e até com acréscimo da qualidade. “A engenharia de valor precisa andar junto com o desenvolvimento do projeto, para viabilizar o produto e aumentar seu potencial de venda, sem impactar no custo”, resumiu.
Requisitos de sustentabilidade são aplicados em todos os empreendimentos da R. Yazbek, destacou, porque o consumo das novas gerações está cada vez mais ligado a esse conceito. Além disso, a engenharia de valor tem a possibilidade de minimizar custos de pós-obra, embora também a execução seja responsável para tanto.
Mais produtividade
Flavio Picchi, presidente do Lean Institute Brasil, abordou a transformação da produtividade por meio do Lean Construction. Segundo ele, a aplicação desta filosofia de gestão na construção vai além da redução de custos e da eliminação de desperdícios e de atividades que não agregam valor. Seus princípios são: agregar valor ao cliente no projeto e na realização das atividades pelas quais o cliente quer pagar; olhar o fluxo do valor; olhar a cadeia produtiva toda; colocar tudo em fluxo contínuo e fazer as atividades no momento necessário.
Para ajudar na competitividade das empresas, a filosofia precisa estar impregnada em toda a empresa, incluindo os terceirizados. Mostrou vários tipos de desperdícios em produção, logística, planejamento, bem como o que fazer para evitá-los. Na obra, podem-se observar e discutir os desperdícios nos processos de trabalho, simplificando etapas, e adotando medidas de planejamento e padronização que elevem a produtividade em até 30% ou mais, segundo ele.
O presidente do Lean Instituto Brasil destacou a importância de: expor os problemas e resolvê-los rapidamente; reduzir o tempo entre o fim de uma atividade e o início da seguinte, visando à redução do prazo da obra; realizar os serviços em pequenos lotes, o que possibilita rápidas correções de execução e reduz custos posteriores no pós-obra.
Picchi mostrou que o Lean Office, aplicado nos processos administrativos, eleva a produtividade. Para tanto, segue os mesmos passos de observação, eliminação de desperdícios, otimização de fluxos e redução de prazos. A filosofia também pode ser aplicada na cadeia toda, com ferramentas como a engenharia de valor para otimizar o produto que o cliente quer, incluindo projeto, materiais de construção e logística de entrega na obra. “A industrialização da construção tem avançado nos últimos anos, espelhando-se na indústria automobilística, de onde veio o Lean.”
Os resultados se traduzem em orçamentações mais seguras, reduções de prazos de entrega, aumento da qualidade das obras, elevação de vendas e boa reputação da empresa, fatores relevantes para enfrentar os desafios do cenário atual. Para tanto, o Lean tem que ser assumido inicialmente pela direção da empresa; ela precisa trazer conhecimento sobre como aplicá-lo; padronizar os processos em uma primeira obra para que se multipliquem nas próximas; e envolver todos os departamentos da empresa, concluiu.
Construção sustentável
Hamilton Leite, vice-presidente do Secovi-SP e diretor da Brain Inteligência Estratégica Benefícios, discorreu sobre os benefícios econômicos e os beneficiários da construção sustentável. Entre estes, disse que a maior beneficiária é a empresa usuária de um edifício sustentável. A produtividade dos funcionários é maior do que nos imóveis comerciais convencionais, sua capacidade cognitiva aumenta, o sono melhora, ficam menos doentes. Portanto, a elevação da produtividade compensa largamente os investimentos em sustentabilidade.
Também o proprietário do imóvel é beneficiado: recebe valores maiores e consegue melhor valor de venda. O poder público tem vários ganhos, ao economizar em áreas como a saúde e o ambiente. Para o empreendedor, os benefícios vão desde melhor remuneração, taxas de juros menores e ganho de reputação. Para o consumidor, há melhora da qualidade de vida, e muitos outros benefícios contemplam o meio ambiente, a sociedade e a vizinhança.
Apesar disso, a construção residencial sustentável ainda engatinha, observou. Os empreendedores percebem uma série de obstáculos como custos adicionais com obras, certificação e consultorias; pouco ou nenhum incentivo público; e dificuldade para contratar profissionais, entre outras.
Entretanto, atendendo a Norma de Desempenho e todo o arcabouço normativo, no qual já há um grande número de práticas de sustentabilidade, o aumento de custo não chega a 2%, informou Carlos Borges. De acordo com Leite, a diferença pode ser de 5%, dependendo do grau de experiência do empreendedor no tema. Com a experiência que a empresa vai adquirindo, esse percentual tende a diminuir, completou.
“Olhando o edifício sustentável em seu ciclo de vida, os benefícios são compensatórios para os usuários, mas o custo adicional é pago pelo empreendedor. Aqui temos um problema.” Para resolver essa equação e fazer o empreendedor construir de forma sustentável, são necessários incentivos públicos, percepção do maior valor de mercado, aplicação de engenharia de valor, utilização do Lean e incorporação de itens que agreguem sustentabilidade aos projetos, concluiu Leite. “Quem sabe a geração Z que tanto preza a sustentabilidade, quando chegar sua hora de comprar imóveis, considere inconcebível adquirir uma moradia sem esse atributo.”
Matéria publicada no Sinduscon-SP