A preocupação com a evolução da crise econômica foi a tônica da Reunião de Conjuntura do SindusCon-SP, coordenada por Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia da entidade, em 5 de outubro.
Traçando um panorama da situação atual, Robson Gonçalves, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), atribuiu às sucessivas ondas da crise política os fatores que minam a confiança empresarial e reduzem a expectativa de crescimento econômico em 2022: sinais de inflação não antevistos pelos mais pessimistas meses atrás, atingindo os dois dígitos; a persistência de uma massa de desempregados de 13 milhões de pessoas; a aceleração da elevação da taxa de juros, freando o processo de retomada da economia; a recuperação do setor de serviços, mas não em ritmo suficiente para garantir o crescimento no ano que vem; baixa atratividade e falta de confiança para a vinda de capitais estrangeiros.
Gonçalves chamou a atenção para o Relatório de Inflação que acaba de ser publicado pelo Banco Central, projetando crescimento de 4,7% do PIB em 2021 e de 2,1% em 2022, este liderado pelo consumo do governo e pelas exportações. De acordo com o economista, isto denota que o governo deve abrir os cofres em função do ano eleitoral, seguindo-se um forte ajuste das contas públicas em 2023 – um ciclo classicamente populista e preocupante, levando as empresas a frearem investimentos, com custos de produção ainda elevados.
A seu ver, possivelmente os investimentos em infraestrutura tenham impulso, mas o restante da atividade deverá andar de lado ou estar abaixo do desempenho deste ano, segundo o BC. Para a construção, de ciclo longo, é um analgésico para uma perna quebrada, comentou.
Zaidan destacou que o mesmo relatório indica uma queda de 0,5% na Formação Bruta de Capital Fixo, afetando a taxa de investimento, lembrando que metade dela é representada pela construção civil. Anteviu que os fabricantes de insumos oligopolizados ainda vão resistir quanto puderem a uma queda consistente nos preços de seus produtos. E comentou que, mesmo com o aumento do emprego na construção, o setor ainda registra 1 milhão de vagas a menos com carteira assinada desde 2014, muitos dos que saem não voltam e o custo da formalização para o empreiteiro de mão de obra é elevado.
Perspectivas da construção
Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, mostrou em sua apresentação que o crescimento do INCC, embora ainda em patamar elevado, vem desacelerando: no acumulado de 12 meses, está em 16,37%, puxado pelo aumento de 31,47% em materiais e equipamentos. Segundo um exercício feito pela economista, se a desaceleração seguir no mesmo ritmo, a variação em 12 meses do INCC no final do ano deverá está abaixo de 14%, aquela dos materiais e equipamentos abaixo de 24% e a da mão de obra entre 6% e 7%.
Ana Maria mostrou os resultados da Sondagem da Construção da FGV, com otimismo em relação à situação atual das empresas, mas piora das expectativas em relação ao futuro, sobretudo no segmento de edificações residenciais. Ela observou que a elevação de preços dos insumos e a demanda insuficiente seguem liderando a lista dos itens assinalados como os que mais dificultam os negócios. Mas as assinalações em relação a dificuldades de obtenção de mão de obra subiram de 6% para mais de 14%, sinalizando a volta de um dos problemas estruturais do setor.
Para a economista, a desaceleração do crescimento da economia chinesa já contribuiu para a queda do preço do minério de ferro e pode elevar a oferta de aço. Entretanto, estão no horizonte elevações da demanda mundial por conta de investimentos futuros na expansão da infraestrutura nos Estados Unidos e na Europa.
Ela ainda destacou o emprego, pela construção, de 238 mil trabalhadores neste ano, ficando o estoque em 2,5 milhões. Os segmentos com maior crescimento são os de serviços especializados: preparação de terrenos e serviços de acabamento, seguido de edificações residenciais e não residenciais, e das obras de infraestrutura.
Já o número de ocupados mostra crescimento de 24% ao final do último trimestre móvel pesquisado pela PNAD, em comparação ao mesmo período do ano passado, voltando ao patamar de 2019. Entretanto, o rendimento médio ainda está 12% abaixo de 2020.
A projeção de crescimento do PIB da construção em 2021 está em 4,9%, de acordo com o FGV/Ibre. Para 2022, Ana Maria notou que há disponibilidade expressiva de caixa dos governos estaduais, com ênfase em investimentos futuros em obras viárias. Este fator, aliado a novas concessões e investimentos em saneamento, anteveem uma possível expansão das obras de infraestrutura.
Matéria publicada no Sinduscon-SP