A empresa que não investir em digitalização e na integração da sua cadeia de produção, nos próximos anos, estará fadada a perder lucro, sair do mercado ou perder espaço para concorrentes cada vez mais modernos e tecnológicos. A conclusão é do diretor da Sienge Plataforma, Guilherme Quandt, que palestrou sobre “Transformação digital e integração na cadeia como alavanca de produtividade”, no último dia do 94º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), o 94º Enic | Engenharia & Negócios, promovido pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Especialista com quase 20 anos de carreira atuando em planejamento estratégico, comunicação, marketing e inteligência de mercado, Quandt é categórico: investir pesado em tecnologia e integração não é mais uma opção para o setor, é obrigação. “No que diz respeito ao uso da tecnologia, vemos um grande gap da construção civil em relação a outros segmentos, como a indústria automotiva. A construção é a que menos faz uso da tecnologia e a que menos investe em integração entre os elos da sua cadeia produtiva. Resultado: mais rupturas e perda de produtividade. E não dá mais para não investir. Está mais do que comprovado: a transformação digital dá um salto na produtividade”, alertou.
A cadeia produtiva da construção civil é composta por diversos segmentos, tais como indústria de transformação, que produzem materiais de construção, comércio varejista e atacadista e também por várias atividades de prestação de serviços, tais como serviços técnico-profissionais, financeiros e seguros. E, segundo Quandt, um dos grandes erros da indústria tem sido não apostar e investir em plataformas digitais, modernas e conectadas.
O especialista citou como exemplo a indústria da cadeia automotiva que, nos anos 80, estabeleceu uma forma integrada de trabalho conhecida como padrão SKU (Stock Keeping Unit). Trata-se de um código único, dentro de cada empresa, que visa melhorar a gestão de estoque, liberação de mercadorias e a certeza nas especificações de um produto, economizando tempo, evitando desperdício e oferecendo mais agilidade no processo. “Esse método deu tão certo que acabou inspirando outros segmentos a adotá-lo”, contou o diretor da Sienge.
Ainda no setor automotivo, Quandt lembrou o método lean ou enxuto, criado pela Toyota ainda na década de 60 para aumentar a produtividade nas suas fábricas. Consiste na busca por produzir melhor, reduzir recursos e tempo por meio de técnicas inovadoras, avaliação de tendências mercadológicas e monitoramento da concorrência. Estudiosos garantem que, com o lean, é possível implementar na empresa processos mais simples e eficientes, desde a produção até o transporte. “Basicamente esse método integra todo o processo de produção, padronização e levou a indústria a outro patamar. Foi ele quem salvou o Japão no pós-guerra”, acrescentou.
Para Guilherme Quandt, é inconcebível imaginar que a indústria da construção, cujo Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 9,7% em 2021, ainda está atrasada no que diz respeito à implantação de uma cadeia integrada de produção e à inovação tecnológica. “Se a gente consegue integrar os projetos e processos do andamento da obra, por exemplo, isso contribui positivamente tanto para a indústria quanto para todos os envolvidos. O projeto fica menos burocrático, mais dinâmico, se ele ficar mais integrador. Economiza tempo, evita desperdício, gera lucro, agilidade. Hoje, na indústria civil, um mundo não conversa com o outro, então, o ideal é construir um ecossistema tecnológico da integração em cadeia”, explicou.
Ainda sobre esse hiato do setor da construção em relação à digitalização e integração de sua cadeia produtiva, o diretor da Sienge acredita que, quem insistir em ficar fora da nova tendência correrá o risco de perder clientes, fornecedores e patrocinadores uma vez que, na adoção de um método integrado, todo mundo sai ganhando. “Por exemplo, um incorporador de médio e grande porte lida com cerca de 70 fornecedores e tem entre oito e dez ferramentas. Quando colocamos todo mundo dentro de uma plataforma tecnológica, temos mais ganhos de tempo, agilidade e economia”, frisou.
O debate “Transformação digital e integração na cadeia como alavanca de produtividade” foi mediado pela presidente da Comissão de Responsabilidade Social (CRS/CBIC), Ana Cláudia Gomes, que destacou o compromisso da entidade em incentivar e contribuir para a modernização tecnológica do setor.
Matéria publicada na Agência CBIC