Dados do Banco Central revelam que o IBC-Br, indicador de atividade econômica, teve alta de 0,7% em novembro na comparação dessazonalizada com o mês anterior. Essa foi a primeira variação positiva do IBC-Br após três quedas mensais sucessivas. Na comparação com novembro de 2020, a alta foi de 0,4% e no acumulado em dozes meses de 4,3%.
Ainda mais favorável foi resultado do Monitor do PIB do FGV-IBRE, que indica alta de 1,8% em novembro, sempre na comparação dessazonalizada com o mês anterior (2,2% frente a novembro de 2020).
Porém, esses são dados vistos “pelo retrovisor” que apenas confirmam que o PIB do país deve ter encerrado 2021 com alta acumulada no ano pouco abaixo de 4,5%. Mas, e quanto ao futuro? Os dados de novembro oferecem algumas pistas para essa questão.
Abrindo o Monitor do PIB da FGV vê-se que, dos três grandes setores da economia, a agropecuária registrou queda dessazonalizada de 15,9% sob forte influência de fatores climáticos, mas houve expansão na indústria (0,5%) e nos serviços (1,5%). Este último setor responde por mais de 65% do PIB total e, ao mesmo tempo, é o mais sensível às influências da pandemia. É importante notar que os dados de novembro ainda não estavam sob o impacto da rápida disseminação da variante Ômicron do Coronavírus, descoberta naquele mesmo período.
Muito embora a cobertura vacinal completa esteja avançando no país, já está claro que os casos de Covid-19, ainda que abrandados pela imunização, provocam afastamentos do trabalho em todas as atividades. Ao mesmo tempo, restrições aos eventos já afetaram datas festivas como o carnaval, de novo com impacto direto sobre o setor de serviços.
Em países como Reino Unido e África do Sul, as curvas de contágio, internações e mortes parecem estar cedendo. Mas, no Brasil, ainda estamos na fase ascendente. Quais serão os impactos econômicos dessa nova onda? A dúvida não é se haverá, mas qual a dimensão desses impactos em termos de restrições ao crescimento. Por tudo isso, as projeções do Relatório Focus para o crescimento do PIB em 2022 têm se aproximado de zero, ainda que permaneçam no campo positivo.
Outro fator limitante que vale ser lembrado é o endividamento das famílias. Pesquisa encomendada pela Confederação Nacional do Comércio sugere que 30% do valor do Auxílio Brasil deverá ser destinado ao pagamento de dívidas. Assim, dos R$ 84 bilhões a serem liberados pelo programa deverão ser revertidos em consumo imediato cerca de R$ 59 bilhões, sendo R$ 28 bilhões com gastos no varejo e outros R$ 31 bilhões no setor de serviços. Por conta do endividamento, sempre segundo a pesquisa, as despesas com consumo deverão ser cerca de R$ 6 bilhões menores do que seriam nas condições pré-pandemia.
Enfim, a inflação ao consumidor na casa dos dois dígitos deixou como herança orçamentos familiares apertados e que deverão se concentrar em gastos essenciais, como destaque para energia e alimentos. Por tudo isso, os números positivos de novembro de 2021 não podem sequer ser comemorados. Infelizmente.
Leia a íntegra da análise elaborada pelo FGV/Ibre para o SindusCon-SP aqui.
Matéria publicada no Sinduscon-SP