Apesar da turbulência que marcará 2022 até que se defina o que acontecerá nas eleições, há sinais de que o ano que vem não será ruim para as construtoras. De todo modo, o setor precisará lidar com dificuldades como custo dos reajustes salariais e escassez de mão de obra qualificada, esta agravada pelo fato de não estar havendo novos ingressantes nas profissões requeridas nas obras.
A análise foi feita por Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia do SindusCon-SP na Reunião de Conjuntura, com a participação do presidente da entidade, Odair Senra, em 2 de dezembro.
Em sua apresentação, Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV/Ibre (Instituto de Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), elencou os fatores negativos que poderão impactar a construção em 2022: a queda da renda real das famílias e a elevação dos juros do crédito imobiliário. Mas, acrescentou, há fatores favoráveis, como a perspectiva de se investir em imóveis como porto seguro para a inflação, o aumento de investimentos em infraestrutura especialmente em transportes e logística, e obras de infraestrutura em diversos Estados por conta do ano eleitoral.
Desta forma, prosseguiu, a perspectiva para 2022 é de um crescimento do PIB da construção acima do esperado para o PIB nacional, sendo ainda maior para as empresas do setor, com reflexo positivo no aumento do emprego. Mas se houver retração de vendas e novos negócios, este cenário não deverá se manter em 2023, alertou. Além disso, seguem as preocupações com custos, especialmente da mão de obra, e com a crise energética, impactando o custo da energia.
A economista disse esperar um resultado do PIB da construção bastante expressivo em 2021. Ela presentou um balanço do desempenho da construção nos 12 meses encerrados em outubro, com destaque para o crescimento do nível de emprego em cerca de 11%. Chamou a atenção para o crescimento de 7% do consumo de cimento naquele período, com tendência de reversão.
A mesma reversão começa a se observar na percepção dos empresários do setor em relação à situação atual da atividade do setor, de acordo com a Sondagem da Construção feita em novembro pela FGV. A enquete mostrou que está aumentando a dificuldade na contratação formal de mão de obra qualificada no setor, ao mesmo tempo em que há crescimento da informalidade com diminuição da renda no país, como apurou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No mercado imobiliário, cresceram as vendas dos apartamentos para médio e alto padrão, e caíram aquelas das unidades habitacionais do Programa Casa Verde e Amarela. Entre as dificuldades da construção, o protagonismo da preocupação com a demanda insuficiente foi perdendo espaço para o aumento dos custos dos materiais. A dúvida, segundo Ana Castelo, é se o ciclo de retomada dos negócios se manterá no mesmo ritmo.
Conjuntura de estagflação
Em sua apresentação, Robson Gonçalves, professor da FGV, afirmou que a pequena queda do PIB nacional no terceiro trimestre não surpreendeu, porém a sinalização de uma recessão técnica é negativa. Voltamos ao patamar de atividade econômica de antes da pandemia, e no momento a perspectiva é de crescimento do PIB inferior a 1% em 2022. Vivemos uma conjuntura de estagflação, uma das doenças mais graves da economia, a seu ver, e que ainda deverá persistir de forma mais leve em 2022.
O economista constatou uma inibição do investimento numa economia já debilitada. As incertezas do presente tendem a afastar investimentos externos e manter a taxa de câmbio elevada no futuro. Segundo ele, a queda da renda com elevação dos juros do crédito afastará decisões de compra, e a isso se acrescentará a polarização que marca o clima eleitoral, aumentando as incertezas.
Matéria publicada no Sinduscon-SP