O presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Paulo Pedrosa, foi o convidado do Quintas da CBIC. Com mediação do presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, o debate abordou os riscos da crise energética para o setor produtivo. O encontro também contou com a participação do presidente da Comissão de Meio Ambiente da entidade, Nilson Sarti.
Segundo Paulo Pedrosa, a possibilidade de acontecer problemas de abastecimento no país é ‘baixíssima’. “Hoje, o risco deve estar na ordem de 2% a 3%, que é absolutamente administrável. Como não acontece de repente, o governo tem instrumentos para, por exemplo, acionar termelétricas para evitar que os reservatórios das hidrelétricas sequem muito rapidamente”, disse.
Ele ressaltou que do consumo total de energia no país, cerca de 40% vem da indústria, mas que o número está diminuindo. “A demanda da indústria vem caindo. Parte da explicação disso é o custo, que tira a competitividade. Algumas indústrias chegaram a sair do Brasil. O país parou de produzir metanol e aspirina, por exemplo. Isso porque nós perdemos competitividade com o gás e com a energia elétrica”, reiterou.
O especialista também explicou que a eletricidade é paga indiretamente dentro de produtos e serviços. “É muito importante estar nesse debate, porque ajuda a pautar o tema pelo ângulo que às vezes é pouco explorado na sociedade – o que o brasileiro paga indiretamente. Muitas vezes vem com preço elevado e tira a competitividade da produção nacional, também tira qualidade de vida das pessoas e de renda circulando no país. As pessoas têm a renda reduzida porque pagam uma conta mais cara do que ela poderia ser, e porque compram produtos e serviços a cada mês também com energia mais cara”, explicou.
Pedrosa ainda apresentou exemplos práticos e apontou que quando uma dona de casa compra um frango congelado no mercado, no preço final existe uma parcela significativa de energia elétrica. Já sobre o setor da construção, ele apontou que o sonho do brasileiro, de ter a casa própria, traz um uso ‘extremamente intensivo’ de eletricidade. “Materiais como o vidro que vai na janela, o cimento, o aço do vergalhão, a telha, a tinta da parede, têm um peso muito significativo de energia. É 10, 15, 20, 40% do custo de produção. Quando a gente chega na casa construída, o custo vai se aproximando de um quarto do custo final da construção. Na cerâmica, por exemplo, chega a ser 40% do custo. Agora com a explosão do preço do gás, algumas cerâmicas me disseram que está avançando para 60%”, disse.
O presidente da CBIC, José Carlos Martins, defendeu que uma tarifa mais barata promove mais competitividade e geração de emprego. “Quando a gente briga pela redução de imposto, pela melhoria da competitividade da economia brasileira, é porque isso vai gerar mais empregos. Tenho certeza absoluta que se a indústria brasileira tivesse uma conta de energia mais barata, certamente poderia produzir muito mais e daria muito mais emprego”, enfatizou.
O presidente da Abrace ainda relatou que a discussão sobre custos de energia não deve ser restrita ao ambiente técnico e, sim, ser ampliada para outros espaços, como o da CBIC. “Manter o debate somente dentro do setor, nós não vamos mudar essa realidade que fez do Brasil o país com uma energia barata e com uma conta cara”, concluiu.
Matéria publicada na Agência CBIC