Um amplo panorama sobre o que se está fazendo e o que ainda pode ser feito para elevar a produtividade por meio da industrialização na indústria da construção foi apresentado em webinar realizado pelo SindusCon-SP em 24 de agosto. O evento foi conduzido por Jorge Batlouni, vice-presidente de Tecnologia e Qualidade da entidade, com a participação do presidente Yorki Estefan.
Ao abrir o evento, Estefan destacou que o incremento da produtividade é relevante para o país. “Se não alcançarmos mais produtividade na construção, não conseguiremos atender aos objetivos dos programas habitacionais da União, Estado e Prefeituras”, afirmou. “O SindusCon-SP é favorável a um tratamento adequado à construção na reforma tributária, e depois de aprovada, atuaremos na regulamentação”, acrescentou.
Em relação à descarbonização da economia, o presidente do SindusCon-SP ainda comentou que a CECarbon (Calculadora de Emissões de Energia e Gás Carbônico da Construção), desenvolvida pelo sindicato, está tendo o reconhecimento do mercado e do governo. Ele destacou que as entidades do setor estão unidas e caminham para trazer a construção brasileira a um patamar mais elevado de produtividade. “A construção não será substituída no futuro, é um campo de muitas oportunidades e continuará fazendo o Brasil crescer.”
Batlouni destacou que a lição de casa das construtoras para o incremento da produtividade é muito ampla e desafiadora. Ele ressaltou a importância de as soluções industrializadas serem economicamente viáveis para sua adoção. E enfatizou a importância do aumento da produtividade para o crescimento do PIB, em um contexto de diminuição da população economicamente ativa.
O papel das empresas
Em sua apresentação, Paulo Aridan Soares Mingione, coordenador do Grupo de Trabalho Industrialização e Produtividade do Comitê de Tecnologia e Qualidade (CTQ) do SindusCon-SP, discorreu sobre os três vetores da responsabilidade das construtoras, para a obtenção de ganhos de produtividade:
1) Processos mais eficientes, por meio de: racionalização de processos e industrialização da construção, com utilização de pré-fabricados e kits; modularidade, padronização e construção modular proporcionando ganhos de escala; capacitação de projetistas, engenheiros e técnicos; aperfeiçoamentos em planejamento e logística; e combinação de sistemas industrializados abertos e fechados, dependendo de cada caso.
2) Melhor gestão da obra, mediante: projetos em BIM (Modelagem da Informação da Construção); melhor gestão de projetos e arquivos no canteiro; uso de equipamentos como notebooks, smartphones e tablets; utilização de drones, scanners 3D, IoT (Internet das Coisas), nuvem de pontos e realidade aumentada; auxílio de Inteligência Artificial na rotina das obras em planejamento, recebimento de materiais, gestão do estoque, programação de insumos, planejamento de movimentação de recursos, planejamento dos serviços e assim por diante; e investimento na capacitação de empresários e novos gestores, utilizando-se de cursos como os oferecidos pela Universidade Corporativa SindusCon-SP.
3) Mão de obra mais qualificada, enfrentando o gargalo da escassez de pessoal; tornar o emprego na construção mais atrativo, por meios de tarefas menos físicas, mais montagens, possiblidade de crescimento de maneira organizada dentro das empresas, incentivo à inovação, melhor reconhecimento do pessoal e maior remuneração sem aumentar custos desnecessários; capacitar os colaboradores mediante parcerias com instituições, empresas e Senai-SP, Sesi-SP e Sebrae-SP; e capacitar os pequenos prestadores de serviços, como o SindusCon-SP está realizando com o Sebrae-SP.
Ações conjuntas em andamento
Laura Marcellini, diretora Técnica da Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção), mostrou em sua apresentação o andamento das ações conjuntas do governo e do setor da construção, do programa ConstruaBrasil, em favor da industrialização da construção, iniciado em 2020 no âmbito do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, além das ações que as entidades setoriais da construção já adotam.
No eixo do ConstruaBrasil sobre Convergência dos Códigos de Obras e Edificações e melhoria do processo de concessão de alvará para construção, foram produzidos um vídeo e dois guias orientativos: um de boas práticas para os códigos e outro para obtenção dos alvarás, além de Ensino à Distância gratuito. Estão em andamento ações em parceria com o Sebrae para orientar gestores municipais.
No eixo digitalização, foram definidas as seguintes metas: difundir o BIM e seus benefícios, apoiar ações de estruturação do setor público para a adoção do BIM, criar condições favoráveis para o investimento público e privado em BIM, desenvolver normas técnicas, guias e protocolos específicos para adoção do BIM e estimular o desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias relacionadas ao BIM.
Para a difusão do BIM foi feito um vídeo e dois outros estão em elaboração, além de um evento. No apoio ao setor público e na capacitação, foram elaborados um diagnóstico e um ensino à distância. E nas novas tecnologias relacionadas ao BIM (aplicações em IoT e Blockchain) e ações para universidades, foi elaborado um Portal Acadêmico e outras ações estão em andamento.
No eixo de Industrialização, as metas foram identificação e adequação de regulamento técnico para incentivo à coordenação modular e incentivo à construção industrializada. Em relação ao primeiro item, foram elaborados um relatório dos itens para revisão normativa e um mapa relacional das normas de coordenação modular e está em desenvolvimento um mapeamento das principais normas e regulamentos técnicos.
Paralelamente, informou Laura, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) reativou e iniciou as reuniões da Comissão de Estudo de Coordenação Modular para Edificações, no âmbito do CB002 (Comitê Brasileiro da Construção).
No item de incentivo à construção industrializada, realizou-se um planejamento estratégico e um vídeo. Dez entidades do setor atuam no GT consultivo do tema. Estão em desenvolvimento estudos de equalização tributária na construção, e de modelos de financiamento para a construção industrializada.
“Para fazer avançar a industrialização na construção, precisamos trabalhar junto com o governo, fazer acordos setoriais e ajudar as cadeias produtivas, atualizar projetistas, definir políticas de estímulo e criar uma política de Estado de longa duração”, destacou Laura.
Ela destacou que é a viabilidade técnica e econômica que pautará as ações do setor de incremento da industrialização. “Precisamos organizar o diálogo na cadeia produtiva, incluir o governo, estimular a racionalização e estipular prazos. Não podemos parar na elaboração da norma de construção modular, precisamos trabalhar com os projetistas e promover avanços”, disse.
Para Laura, a indústria de materiais ainda está aquém das necessidades de adequação ao BIM em termos de modelagem dos objetos. Segundo ela, a estratégia nacional do BIM é relevante, também pelo uso do poder de compra de edificações feitas nesta modelagem. Para quem já está no mercado, preconizou cursos práticos de atualização em BIM. “Na indústria de materiais, temos preocupação com a maneira como serão tratadas as inovações, evitando soluções que venham de fora e não atendem a especificações de desempenho”.
“Com o nível de maturidade que o setor demonstra, temos oportunidades com os novos investimentos públicos e privados. Sabemos onde queremos chegar e precisamos trabalhar junto com o governo e a academia, para darmos um salto na produtividade, com industrialização e sustentabilidade. E precisamos implementar uma governança para as informações geradas pela CECarbon.”
Produtividade na construção
Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos do FGV/Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), mostrou em sua apresentação que a maioria das construtoras ainda não utiliza sistemas pré-fabricados, de acordo com a Sondagem da Construção da FGV realizada em abril deste ano. E aquelas que os usam, fazem-no em poucas de suas obras.
Além da reforma tributária, outras questões precisam ser enfrentadas para a construção de uma agenda do setor para o incremento do uso de sistemas pré-fabricados e, consequentemente, da produtividade.
A economista lembrou que, em função do fim do bônus demográfico, a produtividade é essencial, exigindo melhoria da eficiência do trabalho. Para reter e capacitar o profissional da construção, será necessário mudar os processos de gestão e de qualificação da mão de obra, bem como evoluir dos processos artesanais para um patamar de industrialização. Entretanto, comentou, a construção precisa de previsibilidade para crescer e atrair estudantes para os cursos de Engenharia.
Para Ana Castelo, a construção é uma das atividades que mais gera resíduos e está associada a aspectos negativos da questão climática, sendo inevitável que ela entre na discussão sobre a descarbonização.
Robson Gonçalves, consultor do FGV/Ibre, mostrou em sua apresentação que, no Brasil, trabalha-se relativamente muito, com baixa produtividade. “Na construção civil, a questão tributária é um empecilho ao aumento da produtividade”, destacou. “Se faço pré-moldagem na obra, a tributação é uma, e se a faço na fábrica, é outra. Naturalmente, as construtoras buscam lucratividade, e optam pela solução menos produtiva.”
Segundo Gonçalves, a reforma tributária em discussão no Congresso é um avanço nessa questão, mas a transição será muito longa, persistindo o viés menos produtivo, além de as empresas terem um custo para atender a dois sistemas tributários por alguns anos. Além disso, será preciso esperar pela legislação complementar para aferir o impacto da reforma no setor. E os encargos trabalhistas também devem ser repensados, acrescentou.
“A reforma tributária é uma faca de dois gumes: acaba com o conflito entre ISS e ICMS, mas a tributação do IVA sobre o preço do imóvel precisa ser muito mais baixa que os 25% propostos pelo governo, caso contrário isso será muito prejudicial para a industrialização da construção”, afirmou.
Quanto à descarbonização, considerou ser ela um imperativo moral do país. “Temos que buscar a produtividade com descarbonização, e vamos conseguir.”
Matéria publicada no Sinduscon-SP