Se o Brasil mantiver um crescimento sustentável ao longo dessa década, vai voltar a faltar engenheiros civis para abastecer o mercado da construção civil. Preocupado com o risco de escassez da mão de obra especializada, o sistema Confea/CREA está propondo que estudantes recém-formados nas universidades passem por um período de residência, inspirado no que acontece atualmente com os cursos da área da saúde. A ideia foi apresentada no seminário “Residência em engenharia: uma proposta”, que aconteceu no 2º dia do 93º ENIC (Encontro Nacional da Indústria da Construção).
Pelo segundo ano consecutivo o evento foi 100% virtual, e participaram do debate sobre a residência para engenheiros o vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Ricardo Portella; o diretor-presidente da Mútua, Francisco Almeida; o vice-presidente do Confea/CREA, João Carlos Pimenta, e o presidente do CREA-PR, Ricardo Rocha de Oliveira, que é um dos primeiros defensores de um modelo de transição entre as universidades e o mercado, para preparar melhor os novos profissionais.
Ricardo Rocha de Oliveira explica que através do CREA-PR, o governo do Paraná adotou um programa de residência-técnica, que absorve engenheiros que tem até 3 anos de formatura. Para atuar em organismos governamentais voltados para obras, eles são contratados como bolsistas. “O que precisa ocorrer é o acolhimento do egresso, para que ele possa ser inserido no mercado de trabalho. A residência é uma ideia de aprendizagem no trabalho. A sugestão foi levada recentemente ao ministério do Trabalho e trabalhamos junto a deputados federais para que seja criado um projeto de lei no Congresso, a fim de que futuramente isso possa virar lei”, diz o presidente do CREA-PR.
Universidades priorizam mestres e doutores e esquecem de formar engenheiros-práticos
Ricardo Portella, vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), defende a ideia e lançou duas perguntas para medir a qualificação dos engenheiros que saem das universidades. “A formação que os estudantes recebem na graduação de engenharia civil está alinhada com as necessidades do mercado? Ao sair das salas de aula, os novos profissionais de engenharia civil estão aptos a encarar os desafios do que é ser engenheiro?”, questiona. Portella também criticou as instituições de ensino – principalmente as públicas – ao afirmar que elas privilegiam a formação de doutores e mestres e esquecem de formar engenheiros-práticos.
Francisco Almeida, diretor-presidente da Mútua, foi mais enfático. “No Brasil, o ensino superior virou um mercantilismo, infelizmente. O Confea-CREA não pode intervir no currículo da engenharia, pois essa é uma atribuição do ministério da Educação. Mas há muitos países que possuem parceria intensa entre universidades e empresas. Um exemplo é a Alemanha, onde os engenheiros em fase final de formação são captados para iniciar a preparação para o mercado. Hoje trabalhamos para que haja uma lei nesse sentido, mas não apenas para as universidades públicas, mas as privadas também. Nesse projeto, o Mútua e o Confea/CREA poderiam organizar o acompanhamento desses novos profissionais”, sugere.
João Carlos Pimenta, vice-presidente do Confea/CREA, entende que o currículo das graduações de engenharia civil está defasado. “Os egressos das universidades não saem preparados para o mercado. Essa é a realidade. Por melhor que seja o aluno, o currículo das faculdades tem uma enorme defasagem do que o mercado precisa atualmente. O que propomos é a criação de um período de residência, inspirado no que acontece atualmente na área de saúde. Não precisa se chamar residência, mas a proposta é de transferir conhecimento prático ao graduado, para que ele possa exercer sua profissão”, conclui.
Matéria publicada no Massa Cinzenta