Por Íria Doniak, Presidente Executiva da ABCIC
Parte fundamental para o aumento da produtividade e competitividade do setor da construção, a industrialização contribui ainda para a implementação de novos conceitos e tecnologias da Indústria 4.0, que ampliam as possibilidades de ganhos econômicos, ambientais e sociais. A aplicação dessas tecnologias pode ocorrer nos sistemas construtivos convencionais, mas a interação entre a industrialização e a digitalização se processa de uma maneira rápida pois estão ligadas de forma intrínseca.
Desse modo, investir em sistemas construtivos industrializados – pré-fabricados de concreto, construção metálica, wood frame, drywall, steel frame, light steel frame – resulta em uma série de vantagens competitivas para as construtoras, empreiteiras e contratantes, uma vez que produzir as construções em escala industrial e transformar o canteiro de obras em um canteiro de montagem eleva a qualidade, sustentabilidade e controle de custos e de riscos, somado ao atendimento de prazos ousados e um retorno de investimento mais rápido.
Os sistemas construtivos industrializados possuem grande aplicabilidade de forma isolada em ciclo fechado, mas maximizam este potencial no ciclo aberto, por possuírem uma interface amigável tanto entre si como com os sistemas convencionais. É importante explicar que, quando nos referimos à industrialização, conforme referências bibliográficas, estamos efetivamente tratando da construção “off-site”, ou seja, produzida em indústrias e montadas no canteiro. É fato que a construção civil no que diz respeito à construção “in loco” ou modernamente chamada de “on site” evoluiu muito na última década, utilizando métodos racionalizados, mas nosso objetivo é explorar a industrialização.
Essa competitividade trazida pelos sistemas construtivos industrializados é comprovada por diversos países e em diversas áreas, incluindo no Brasil. Quando se trata de empreendimentos varejistas, industriais e logísticos, edifícios comerciais a escolha pelo pré-fabricado de concreto, por exemplo, é praticamente unânime, pois esses segmentos demandam colocar suas instalações em funcionamento com o máximo de celeridade.
Por outro lado, no mundo inteiro a industrialização sempre teve um papel importante, em especial com pré-fabricados de concreto nas demandas habitacionais e de infraestrutura. Em relação à infraestrutura, os cronogramas ousados dos eventos esportivos (Copa do Mundo e Olimpíadas), a privatização das rodovias, terminais portuários e aeroportuários dos últimos anos têm demonstrado que, por questões de agilidade, menor impacto no entorno, sustentabilidade e manutenção, o pré-fabricado de concreto, em especial é uma solução que tem sido cada vez mais considerada. Portanto, o setor cresce nesta aérea.
Da mesma forma, o pré-fabricado de concreto é a solução para as demandas habitacionais na Europa e em países asiáticos, com políticas públicas pré-estabelecidas. Já no Brasil, o sistema construtivo ainda perde competitividade por questões tributárias, embora esteja construindo o seu caminho e tem encontrado o seu espaço, através de mudanças de modelos de negócio.
É importante ressaltar que cada sistema construtivo industrializado possui sua especificidade, que precisa ser conhecida e percebida pela construtora, contratante ou escritório de engenharia. O ideal é que na fase de projeto, dependendo dos objetivos do empreendimento, haja a definição pelo tipo de sistema, a fim de explorar todos os benefícios com sua aplicação. Certamente, é possível realizar a adaptação posterior, porém quando se projeta com um ideal construtivo todo o potencial dele pode ser aproveitado.
Especificamente na construção com o pré-fabricado de concreto, atualmente, as soluções estruturais mais adotadas são compostas por um ou mais dentre os sistemas: aporticados, em esqueleto, de paredes portantes, que, por sua vez, podem estar associados aos sistemas formados por pisos, por fachadas e por sistemas chamados de modulares: 2D painelizados ou 3D volumétricos ou celulares. A escolha dentre as opções considera o projeto arquitetônico, o projeto estrutural e outros aspectos como logística (produção, transporte, montagem da estrutura e equipamentos requeridos), gerenciamento e planejamento da obra.
Os sistemas aporticados são formados por pórticos planos, compostos por pilares e vigas de fechamento. São usualmente denominados por galpões e utilizados em instalações comerciais, industriais e de agronegócio. Já o esqueleto é formado por pilares, vigas e lajes, e possibilita a concepção de estrutura com grandes vãos, que pode estar associada a diferentes sistemas de fechamento. Pode ser aplicável em estruturas de apenas um pavimento, de média altura (com até 20 pavimentos) ou de edifícios altos (acima de 20 pavimentos) como edifícios industriais e de centros comerciais de grande porte. As duas formas com as devidas considerações de funcionalidade carregamentos e do uso são também aplicáveis à infraestrutura.
Nos sistemas estruturais formados por painéis portantes, a estrutura conta com painéis verticais localizados nas extremidades (fachadas), que servem de apoio para os sistemas de pisos. Como permitem que a estrutura tenha grandes vãos livres, a arquitetura tem disponibilidade para criar o projeto de acordo com as exigências do cliente, utilizando divisórias leves para definição da disposição interna, que pode ser facilmente modificada se necessário. Esses sistemas são utilizados em edifícios habitacionais, mas também tem larga aplicabilidade em escritórios, hospitais e escolas
O fato é que o Brasil possui expertise nos diversos sistemas construtivos industrializados, em especial na pré-fabricação em concreto, com indústrias, fornecedores e prestadores de serviços altamente qualificados, presentes há mais de 60 anos para fornecer justamente o que o país precisa no momento atual, que é um desenvolvimento socioeconômico para diminuir a desigualdade social, e impulsionar a geração de emprego e renda, aumentar a produtividade, construindo de forma inteligente, além de estar alinhado aos requisitos e metas ambientais, com grande impacto no ciclo de vida dos produtos e na economia circular.
Matéria publicada no Concrete Show