“Vivemos um momento diferente no Brasil e no mundo, porque a indústria está mais vulnerável à política monetária, o que nos afeta bastante”. A declaração do presidente do Conselho Superior da Indústria da Construção (Consic) da Fiesp, Rubens Menin, deu o tom da reunião.
A taxa de juros predominou nas discussões do Conselho e, de acordo com Menin, a falta de capital de giro e os juros excessivamente altos criam ambiente muito desfavorável para a indústria, especialmente o setor da construção.
“Essa política monetária mais restritiva não é só no Brasil, mas no mundo todo. No entanto, aqui a taxa real é maior. Com o IPCA indo para 7% e a Selic em quase 14%, temos uma grande diferença. Se somar a isso o spread, chega aos 10 pontos. E aí ninguém pode resistir. Isso mata a indústria”, lamentou.
Menin também alertou para a necessidade de que haja controle fiscal e que a inflação não apresente nova curva de crescimento. “Precisamos torcer para que o IPCA nos próximos anos não volte a crescer como um dromedário”, disse ele, sinalizando o movimento de um gráfico com duas corcovas.
A opinião é compartilhada pela economista-chefe do Departamento de Research do Banco Inter, Rafaela Vitoria, que participou da reunião. A manutenção de juros baixos, apontou, é benéfica para o mercado de capitais e para financiamentos imobiliários, o que ficou evidente durante o segundo semestre de 2020, quando a Selic chegou à mínima histórica de 2%. “A concessão de crédito imobiliário cresceu significativamente nos últimos anos também para a pessoa física, o que teve impacto direto dos juros. Uma Selic em torno de 5 pontos seria muito preferível”, afirmou.
Ainda que a taxa no exterior tenha subido, os juros reais são maiores no Brasil. De acordo com a economista do Inter, o IPCA projetado para 2022 deve ficar em 6,5%, estimativa mais otimista que do Boletim Focus, de 7,11%. “Se nossas projeções se confirmarem, poderemos ver a Selic começar a ser cortada já no primeiro semestre de 2023”, anunciou.
A reunião também teve a participação do diretor executivo BTG Pactual, Guilherme da Costa Paes, do chefe de mercado de capitais de renda fixa, Daniel Vaz, e da diretora Daniella Yamada. Eles apresentaram produtos para o setor da construção civil, tais como debêntures e os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs).
As debêntures são mais indicadas para empresas com nível mais avançado de governança, estrutura e volume de emissões de papéis superior a R$ 100 milhões. No caso dos CRIs, é um produto mais acessível a empresas de menor porte e com menor nível de governança.
Também participou da reunião o diretor titular do Departamento da Indústria da Construção e Mineração (Deconcic) da Fiesp, Ronaldo Cury. Ele informou a constituição da nova diretoria do departamento e apresentou um resumo de um dos trabalhos em desenvolvimento: uma pesquisa sobre substituição tributária, tema extremamente relevante para a cadeia produtiva da indústria da construção.
Matéria publicada na FIESP