Um dos desafios da tecnologia BIM (Modelagem de Informação da Construção) é conseguir conectar todos os agentes da cadeia de produção em um único sistema integrado, e isso deve acontecer de forma efetiva em três anos, causando uma disrupção na construção civil.
É o que estima o presidente do BIM Fórum Brasil, Rodrigo Koerich, que diz já haver exemplos muito claros dessa mudança. “Vão surgir inúmeros outros modelos de negócio, com ganhos e reduções de custo e processo, que vão mudar drasticamente a cadeia. O que vai acontecer nesses próximos poucos anos é realmente uma transformação muito grande.”
Sobre o cenário atual, Koerich, que é Engenheiro Civil e Mestre em Estruturas, ressalta que o uso da tecnologia no Brasil ainda é menor em relação ao que deveria ser, mas que está crescendo – e destaca o fato de que o BIM é restrito, atualmente, à fase do projeto, sendo deixado de lado quando a construção, em si, é iniciada. “Isso é um problema que temos que resolver.”
Em entrevista exclusiva ao Massa Cinzenta, o especialista, que também é Diretor de Portfólio na empresa AltoQi Tecnologia (desenvolvedora de softwares BIM para projetos, orçamento e gestão de edificações), fala sobre os custos do investimento e a busca por uma participação mais ativa do governo, para que possa criar políticas complementares e contratar em larga escala projetos em BIM.
A tecnologia BIM é muito usada em projetos no Brasil?
Rodrigo Koerich: Ainda é pouco em relação ao que deveria ser, mas está crescendo. Mais e mais projetistas, mais e mais construtoras estão contratando projetos em BIM. Depois que um projeto é contratado, entregue e começa a construção, aí o BIM deixa de ser usado por quase todas as construtoras. Ele deveria prosseguir sendo atualizado e mantido durante a fase de construção, mas não é isso que está acontecendo no mercado, infelizmente. O uso do BIM, hoje, ainda é bem restrito à fase do projeto. E isso é um problema que a gente tem que resolver.
Por que ainda é restrita à fase do projeto?
Por enquanto, as tecnologias que estão disponíveis para projeto conseguem ser integradas. Quando a gente vai para a fase de execução, existem tecnologias, mas elas estão desconectadas – muitas startups fazem pedacinhos do processo de gerenciamento da construção, mas não o fazem de maneira completa e não de maneira integrada. Por isso, os empreendedores também não estão conseguindo transformar em realidade os benefícios que o BIM pode oferecer.
Em sua avaliação, quando seria possível essa integração?
Se as coisas forem feitas a seu próprio tempo, sem que haja interferência, vai demorar, porque o mercado teria que, passo a passo, ir descobrindo as coisas. Eu venho defendendo que é preciso ter um trabalho intencional, planejado e estrategicamente concebido e executado para que isso seja acelerado. O que tem que ser feito? Existe um trabalho que a gente vem fazendo, no BIM Fórum Brasil, que é sensibilizar os entes do governo, acelerar a adoção da estratégia BIM BR e criar políticas e ações complementares para que ela seja adotada – especialmente que o governo realmente contrate em larga escala projetos em BIM.
Mas também é preciso fazer uma iniciativa e um trabalho dentro do setor produtivo, dentro da iniciativa privada, que envolve toda a cadeia da construção, desde as incorporadoras, as construtoras, os fabricantes. O investidor já percebeu o benefício do BIM e precisa estar sensibilizado de que realmente isso é possível e traz benefícios para ele. A gente também está começando a estruturar uma ação trazendo para a mesa o representante da cadeia produtiva, tentando começar a desenhar e a construir estratégias para que a cadeia da construção primeiro se sensibilize, e depois se prepare para fazer essa mudança de chave.
É muito caro o investimento na tecnologia BIM? Os custos devem diminuir?
Em toda nova tecnologia, a tendência é de que o custo vá diminuindo ao longo do tempo, então, aqui nesse caso, não seria diferente. Mas o investimento proporcional, o quanto que custa a mais para fazer o projeto em BIM, ele é um custo absolutamente marginal frente ao investimento e aos materiais que são utilizados.
Os erros que acontecem durante as fases de projeto e construção, as tomadas de decisão que são mal feitas porque não tinha informação suficiente, custam muitas vezes mais do que o custo da adoção da tecnologia. Então eu posso garantir que o investimento para a transformação digital é muitas vezes menor do que o benefício que se passa a ter.
E, quanto mais o tempo passar, quanto mais essas tecnologias estiverem integradas e mais agentes da cadeia de produção estiverem envolvidos, mais esse investimento será diluído. Construtoras e incorporadoras precisam fazer a virada de chave. Se demorarem a fazer, vão demorar a ter os benefícios. Mas alguém está fazendo isso.
Quando a gente conseguir conectar os agentes da cadeia, vai haver uma disrupção na construção. Vão surgir inúmeros outros modelos de negócio, inúmeras outras possibilidades, ganhos e reduções de custo e processo que vão mudar drasticamente a cadeia. O que vai acontecer nesses próximos poucos anos é realmente uma transformação muito grande.
Em quanto tempo você prevê essa grande mudança?
Eu estimo que em 3 anos. A gente já está vendo exemplos muito claros de vários empreendimentos que vão passar a ser construídos e gerenciados de uma maneira muito diferente daquela que estamos acostumados hoje.
Imagine dois empreendimentos iguais, um ao lado do outro, e um deles é vendido por 5% a menos. Só que 5% em um empreendimento que custa muitos mil, eventualmente, milhões de reais, é um dinheiro representativo para o comprador. Então faz diferença a escolha de um produto que tem base tecnológica, que foi construído em BIM, que tem mais qualidade, que tem mais informações agregadas, que facilita depois o processo de manutenção, em detrimento de um outro do lado, que custa 5% a mais e que não tem isso.
Portanto, quem fizer isso vai ter diferenciais de mercado impactantes para a cadeia. E isso já está em processo de acontecer.
Matéria publicada no Massa Cinzenta