Em 2023, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) prevê um crescimento de 2,5% para o setor da construção civil. Dentro deste contexto, quais são as tendências que devem surgir neste ano nesta área? Quais os impactos da economia neste setor e quais efeitos podemos esperar?
Inteligência artificial
Em 2023, a inteligência artificial tem ficado em voga com a chegada do ChatGPT. Para Victor Moraes, engenheiro civil e CEO da BR Work, a tecnologia do ChatGPT irá aumentar a competividade do mercado uma vez que os processos serão otimizados, no final da cadeia produtiva isso sempre é revertido em uma redução de custo no produto final.
“Podemos afirmar com uma margem pequena de erro que isso deve ser cada vez mais comum nos próximos anos. Isso permitirá aprimorar desde a metodologia da cadeia de ensino de nossa classe até as operações in-loco dos canteiros de obras”, afirma Moraes.
Já Mariana Albuquerque, arquiteta e sócia do Studio Dwg, acredita que a inteligência artificial será um importante recurso de comunicação entre as empresas e os clientes – algo que sempre foi um desafio para a construção civil pelo grande volume de informações. “Melhorar a eficiência, a qualidade e a agilidade desta troca proporcionarão um grande ganho para esta indústria. Desta forma, os arquitetos poderão dedicar mais tempo ao desenvolvimento e criação dos projetos e o cliente terá uma melhor experiência em todos os sentidos”, argumenta Mariana.
Para o engenheiro Milton Bigucci Junior, diretor da MBigucci, a expectativa é que este tipo de ferramenta agregue mais agilidade, qualidade e maior volume nas informações, levando, consequentemente, a uma melhora no desenvolvimento do setor como um todo. “Seja em planejamento, projetos, documentação, compra de materiais, contribuindo também para execução das obras, tornando-se uma ferramenta extremamente útil para os profissionais da área, bem como para o mercado em geral”, opina Junior.
Sustentabilidade na construção civil
Cada vez mais as empresas do setor de construção civil têm buscado opções sustentáveis – seja com materiais com menos emissão de gases ou técnicas construtivas com menos desperdício. 2022 também foi marcado pela Copa do Qatar, na qual construções temporárias foram erguidas e que posteriormente poderão ser reaproveitadas com outros usos.
Na opinião de Moraes, as empresas do setor da construção civil perceberam um amadurecimento do setor. “A sigla ESG (Governança ambiental, social e corporativa) tem ganhado muito mais relevância, a empresa que está ligada neste novo comportamento de mercado terá vantagens na comunicação com seu time, fornecedores e clientes”, esclarece o engenheiro.
Mariana pontua que o maior foco de tudo que está relacionado ao mercado de construção civil deve estar voltado a evitar o desperdício. Além disso, ela vê que há anos é realizado o lançamento de materiais e técnicas que reduzem o consumo de energia. “Os telhados verdes, por exemplo, surgiram assim e conquistaram o mundo”, exemplifica.
Um conceito que vem crescendo muito, segundo Mariana, é o da biofilia na arquitetura. “Projetos estão nascendo cada vez mais incorporando a natureza no ambiente construído. Dentro e fora se mesclam. Conceitos como este são apaixonantes e retomam a estrada correta do modernismo que nos trouxe até aqui”, comenta.
Ainda, Junior aponta que a construção industrializada vem tomando corpo, uma vez que a mão de obra para o setor está cada vez mais difícil. “A industrialização dos procedimentos passou a ser uma realidade, contribuindo e muito para a redução de desperdícios”, destaca.
Técnicas construtivas: impressão 3D
Para Moraes, as construções com impressão 3D ganharão mercado nos próximos anos por conseguirem minimizar o impacto de três ou até mais dos principais obstáculos da área: gestão do coeficiente de erro humano nas obras, previsibilidade de tempo no processo construtivo e padronização dos resultados. “Esses pontos sempre foram grandes desafios para área. Ao minimizá-los, poderemos ter uma indústria mais competitiva, limpa e inteligente”, expõe Moraes.
No entanto, segundo Moraes, os custos não fecham em boa parte das operações. “Seja pela falta de mão de obra para operar as máquinas ou até mesmo pela tecnologia ainda estar em aprimoramento, a indústria da construção civil está entre as mais conservadoras. Sendo assim, a tecnologia deve ganhar força nas próximas décadas, mas terá grandes desafios pela frente”, opina o engenheiro.
Mariana, por sua vez, entende que a tecnologia e a impressão 3D possibilitam a exploração de novas formas, estruturas e materialidades. “Isto tudo abre novos caminhos para o processo criativo, mas do nosso lado surge um receio que por este motivo os projetos fiquem muito mirabolantes e futuristas. O mais belo seria usar esta tecnologia para aperfeiçoar soluções e a qualidade da construção, porém resgatar no conceito dos projetos a simplicidade e a eternidade”, argumenta a arquiteta.
Por outro lado, Junior acredita que a construção com impressoras 3D ainda é uma realidade muito distante para ser produzida em escala. “Pela construção de um prédio ser algo bastante volumoso fica mais difícil a logística para esta produção. Entretanto, a produção de pequenas peças que compõe uma residência por exemplo já é bem mais viável e pode ser uma realidade muito em breve, sempre falando em grande escala, uma vez que já existem diversos produtos impressos em 3D” pondera.
Matéria publicada no Massa Cinzenta